Pular para o conteúdo principal
O BAS-FOND DA SALA SÃO PAULO. ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET
Quando inauguraram a Sala SP há 24 anos atrás prometeram, não vamos esquecer, que ela ajudaria a revitalizar o centro da pauliceia desvairada... Esse artigo pretende analisar essa questão que afeta diretamente os frequentadores das temporadas da OSESP e do Theatro Municipal de São Paulo, a saber como o centro de SP se tornou a região decadente que é hoje.
A resposta para essa questão é simples e não é discutida em lugar nenhum, é simplesmente por São Paulo ter abraçado a partir do anos 50 o modelo rodoviarista e norte americano de urbanismo. A mesma coisa que ocorreu no centro de SP ocorreu no centro das grandes cidades americanas desde os anos 50. A diferença é que os EUA são um país rico e o Brasil um país pobre, portanto enquanto o centro de muitas metrópoles da gringolândia está impecável mas vazio, com alguns moradores de rua e poucos residentes, principalmente poucos moradores de classe alta, os centros de muitas cidades brasileiras estão caindo aos pedações, cheios de moradores de rua e de zonas de prostituição e pontos de venda de drogas.
Para mais detalhes favor consultar o clássico livro Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas, de Jane Jacobs.
A situação terrível em que se encontra o centro de SP hoje poderia ser amenizada se o belíssimo patrimônio histórico da área tivesse sido melhor preservado, mas diante do modelo de urbanismo seguido a calamidade que aconteceu era de se esperar. É tudo um problema de pobreza aliada ao péssimo planejamento urbano. Não tem nada a ver com decadência moral da sociedade, falta de repressão policial, falta de internações compulsórias de viciados, etc. Drogados e prostitutas existem também nos países ricos, mas cracolândia como a de SP é coisa de pais pobre mesmo!
O centro de SP não apenas era uma área nobre da cidade antigamente, como era a cidade praticamente! 100 anos atrás a cidade tinha 500 mil habitantes, 130 anos atrás SP nem chegava a ter 100 mil habitantes, 150 anos atrás a maior cidade do estado de SP não estava nem entre as 20 maiores cidades do Brasil e no século XVIII enquanto Rio, Recife, Salvador e Ouro Preto tinham segundo estimativas por volta de 80 mil habitantes, São Paulo tinha 8 mil! Com esse crescimento absurdo experimentado ao longo do século XX pela atual metrópole paulista, mesmo uma economia pujante e planejamento urbanístico decente dificilmente controlariam totalmente esse organismo em expansão desenfreada, no caso então de um país pobre e de uma cidade mal planejada, então o resultado só poderia ser esse que vemos hoje...
Portanto quem frequenta o centro de SP, como por exemplo o público da Sala SP e do Municipal, precisa saber: O CENTRO DE SÃO PAULO NÃO TEM SOLUÇÃO, para solucionar o problema do centro, São Paulo teria que ser outra cidade, totalmente diferente do que é. O livro citado da Jane Jacobs fala da morte das grandes cidades americanas, mas explica perfeitamente a situação de SP, bem como por que o centro do Rio, uma cidade mais pobre que SP, é bem menos pior que o centro de SP, bem como por que os ricos de BH hoje também estão se mudando para condomínios em Nova Lima na região metropolitana. Passamos a entender por meio de livros como esse a razão de uma cidade do porte de Curitiba não ter metro, enquanto na Europa cidades com aproximadamente 500 mil habitantes como Lausanne, Palma de Maiorca, Rennes e Granada tem metro!
Eu defendo aqui a construção de auditórios para concertos e teatros pelo Brasil mas não vamos nos iludir, essas obras não conseguem reverter sozinhas a decadência urbana das regiões onde se inserem. Os arredores da Sala São Paulo continuam como um dos lugares mais assustadores de qualquer metrópole do planeta segundo muitos entendidos. Sei que esse é um tema não diretamente relacionado ao mundo da ópera e concertos, mas é uma das coisas que os frequentadores de óperas e concertos mais comentam é sobre os terríveis arredores do Theatro Municipal de SP e da Sala SP.
Isaac Carneiro Victal.
Comentário de Osvaldo Colarusso no Facebook: " Granada não tem Metrô. Pelo menos não tinha há oito anos quando estive.por lá a última vez. A Sala São Paulo é uma espécie de Bunker em meio ao caos humano. Não, nunca apresentou melhora em seu entorno, ao contrário aprimorou sua própria separação dele.'
ResponderExcluirO metro de Granada foi inaugurado em Setembro de 2017 e está em expansão nesse exato momento. Isaac Carneiro Victal.
ExcluirComentário de Phillip Sinnerman no Facebook:
ResponderExcluir"Eu que vivi em S Paulo e utilizei muito a Estação Sorocabana achei um crime o que fizeram. Com o valor gasto poderiam ter criado um local incomparável e moderno para a OSESP. Mas aquela perola arquitetônica virou se do avesso para abrigar a OSESP , tipo assim um Palácio como dos Campos Elíseos vira um Museu das Favelas. Milagre o Museu do Ipiranga nao ter se transformado em Centro Gastronômico. Perdendo a nossa história ficamos a mercê deles".
Eu inclusive detesto a acústica da Sala São Paulo, ela tem uma estranha ressonância que embola tudo e muitos assentos onde se paga caro mas se ouve muito mal! Eu sou praticamente a única voz que fala mal publicamente da acústica da Sala São Paulo. O seu Kunze da Revista concerto falou mal da acústica da Sala Minas Gerais quando ela foi inaugurada, mas recentemente o Perpétuo da Concerto num artigo percebeu que a boa acústica da Sala Minas Gerais é um dos fatores que faz a Filarmônica de Minas Gerais soar melhor que a OSESP. Eu sempre afirmei que não se pode comparar um espaço construído desde a primeira pedra para ser uma sala de concertos com um espaço adaptado para ser uma Sala de Concertos. Agora se eu começar uma campanha para a construção de uma sala de concertos sinfônicos de verdade em SP, como fizeram BH com a Sala Minas Gerais e o Rio com a Cidade das Artes, tenho certeza vou sofrer todo tipo de ataques. O meio musical brasileiro é uma paróquia onde todo mundo repete as mesmas cantilenas... Isaac Carneiro Victal.
ExcluirPerfeito, Isaac! Eu tambem não gosto muito da acustica da sala SP.
ExcluirTem um problema sério nos agudos, e tuttis e fortissimos viram um ruído... Um amigo engenheiro, que trabalha com acustica, e frequenta a sala, disse que é devido às colunas que fazem uma difusão exagerada. Inclusive ele foi chamado pela Osesp faz tempo, para melhorar a acustica. Ele propôs cobrir as colunas, única solução, que não foi/pôde ser aceita.
Agradecemos seu depoimento! Isaac Carneiro Victal.
ExcluirUma vez pude confirmar a questão da acustica. A Osesp teve que transferir 2 datas de apresentação, faz anos, devido á alguns eventos realizados na sala SP nas mesmas datas. Tocaram no Municipal, e fui nas 2 apresentações(sou assinante), e finalmente deu para comparar a Osesp tocando nos 2 espaços. O teatro Municipal tem acustica bem melhor, a orquestra soou divinamente...
ResponderExcluirmesmo sendo teatro para voz(ópera), é muito bom para orquestras.
Pena que só a acustica presta no Municipal hahaha mas isso já é outro
assunto.
Agradecemos seu depoimento, mas também julgamos a acústica do Municipal problemática para concertos sinfônicos, pelo motivo oposto, ou seja falta de ressonância, mas justamente por ter uma acústica tão seca, é notável a clareza muito maior do som da orquestra nesse palco. Não se escuta a cacofonia nos tuttis e fortíssimos como disseram aqui no Municipal como percebemos na Sala SP. O fato da mídia especializada ter louvado até não mais poder a acústica da Sala SP por todos esses anos é algo inadmissível. A acústica desse espaço é medíocre, simples assim. Isaac Carneiro Victal.
ExcluirOutro problema da Osesp, que não ajuda na acustica, são os naipes de metais!
ResponderExcluirDesde a era Neschling, os metais são meio descontrolados, tocam muito alto e incomodam no equilìbrio da orquestra.
Tudo tem que ter um bom senso!
ResponderExcluirO que era sensacional quando a SSP foi inaugurada, já não é hoje.
Tudo tem que ter melhorias depois de um certo tempo, seja lá sobre o que for.
Vejo a SSP, não só com os problemas de acústica, mas também com a sujeira pelas paredes ( a mer ver, imunda) e falta de restauração em alguns pontos. Os andares não abertos ao público parecem mais limpos e preservados. Mas onde o público circula precisa urgentemente de limpeza pesada.
Não são só os metais em desequilíbrio. Existem pontos específicos com vícios de problemas.
O coro, às vezes "berra"!
E está tudo bem, todos se fazendo de cegos, pois o show tem que continuar.
Houve um tempo, bastante especial, que não volta mais!