ALMEIDA PRADO: SINFONIA DOS ORIXÁS - NOVO ÁLBUM DA SÉRIE "A MÚSICA DO BRASIL" COM A OSESP E CORO DA OESEP.
Está disponível em todas as plataformas digitais, a partir de 26 de maio, o novo lançamento da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp pela série A Música do Brasil, que faz parte do projeto Brasil em Concerto – uma realização do selo Naxos em parceria com o Departamento de Difusão Cultural do Ministério das Relações Exteriores.
Gravado na Sala São Paulo em fevereiro de 2022, este é o décimo quinto título da série A Música do Brasil e traz duas obras do compositor paulista Almeida Prado – que em 2023 completaria 80 anos – interpretadas pela Osesp e pelo Coro da Osesp, sob a regência do maestro britânico Neil Thomson: a Sinfonia dos Orixás e os Pequenos Funerais Cantantes – a segunda peça conta também com a participação dos solistas Clarissa Cabral (mezzo soprano) e Sabah Teixeira (barítono).
A seleção de obras oferece um rico panorama da criação de José Antônio de Almeida Prado, que nasceu em Santos, no litoral paulista, em 1943, e morreu em São Paulo em 2010, e marcou seu nome como um dos mais influentes compositores brasileiros do século XX e início do XXI. O álbum Sinfonia dos Orixás • Pequenos Funerais Cantantes pode ser encontrado em edição física na Loja Clássicos, que está localizada dentro da Sala São Paulo (piso térreo), e em edição digital disponível nas mais diversas plataformas de streaming.
Sobre a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp
Fundada em 1954, desde 2005 é administrada pela Fundação Osesp. Thierry Fischer tornou-se Diretor Musical e Regente Titular em 2020, tendo sido precedido, de 2012 a 2019, por Marin Alsop, que agora é Regente de Honra. Seus antecessores foram Yan Pascal Tortelier, John Neschling, Eleazar de Carvalho, Bruno Roccella e Souza Lima. Em 2016, a Orquestra esteve nos principais festivais da Europa e, em 2019, realizou turnê na China. Em 2018, a gravação das Sinfonias de Villa-Lobos, regidas por Isaac Karabtchevsky, recebeu o Grande Prêmio da Revista Concerto e o Prêmio da Música Brasileira. Em outubro de 2022, a Osesp estreou no Carnegie Hall, em Nova York, realizando dois programas – o primeiro como convidada da série oficial de assinaturas da casa, o segundo com o elogiado projeto Floresta Villa-Lobos.Sobre a série A Música do Brasil
A série A Música do Brasil faz parte do projeto Brasil em Concerto, desenvolvido pelo Ministério das Relações Exteriores com o intuito de promover a música de compositores brasileiros criada a partir do século XVIII. Cerca de 100 trabalhos orquestrais dos séculos XIX e XX serão gravados pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp e as Filarmônicas de Minas Gerais e de Goiás. Álbuns de música coral e de câmara serão gradualmente adicionados à coleção. Os trabalhos foram selecionados de acordo com sua importância histórica para a música brasileira e a pré-existência de gravações. A maior parte das obras registradas para a série nunca esteve disponível em fonogramas fora do Brasil; muitas outras terão sua estreia mundial em álbuns. Uma parte importante do projeto é a preparação de novas ou primeiras edições dos trabalhos que serão gravados, muitos dos quais, apesar de sua relevância, só estavam disponíveis no manuscrito do compositor. Este trabalho é feito pela Academia Brasileira de Música e por musicólogos trabalhando em parceria com as orquestras.[Texto de Carlos Fiorini sobre o álbum]
Almeida Prado (1943–2010) Sinfonia dos Orixás • Pequenos Funerais Cantantes ao poeta Carlos Maria de Araújo Nascido em Santos, em 1943, e falecido em São Paulo, em 2010, José Antônio Rezende de Almeida Prado foi um dos principais compositores brasileiros da segunda metade do século XX à primeira década do século XXI. Escreveu para diversas formações, com destaque para o piano, seu instrumento, mas conta também com incursões por uma gama que vai do violão solo à grande orquestra, passando pelo coro, diversos instrumentos solistas e música de câmara.A obra de Almeida Prado pode ser dividida em três grandes períodos. As peças de juventude, marcadamente nacionalistas, demonstram uma forte influência de Camargo Guarnieri, então seu professor de composição. O segundo período tem início em 1965, quando Almeida Prado rompe com Guarnieri e passa a absorver e utilizar as tendências da vanguarda europeia. Foram os anos em que conseguiu se projetar como compositor, principalmente após receber o primeiro prêmio do I Festival de Música da Guanabara, em 1969, com Pequenos Funerais Cantantes. Em seguida, mudou-se para Paris, onde estudou com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen. A partir de 1983, tem início o terceiro período, em que o compositor passa a mesclar as técnicas e os elementos desenvolvidos anteriormente, em afinidade com as tendências vanguardistas, com elementos da música tonal e referências aos ritmos e modos da música brasileira, além de fontes religiosas, notadamente textos católicos e ritmos e melodias do candomblé.
Pequenos Funerais Cantantes ao poeta Carlos Maria de Araújo (1969) [20‘22”]
Pequenos Funerais Cantantes foi escrita para coro, solistas e orquestra, sobre o poema homônimo de Hilda Hilst. Embora Almeida Prado utilize uma ampla gama de instrumentos na formação orquestral, ele o faz a fim de criar timbres diversos – em momento algum ocorre um tutti. Versátil também é o emprego do coro para além da tradicional escrita coral, com elementos como o canto monódico, o estilo declamatório e sílabas entrecortadas por pausas e texto falado.
A obra estrutura-se em três partes: “Corpo de Fogo”, “Corpo de Terra” e “Corpo de Silêncio”. A primeira é uma introdução instrumental que descreve sonoramente um voo de avião e sua queda, em referência ao acidente que vitimou o poeta português Carlos Maria de Araújo. “Corpo de Terra” é o título que Almeida Prado tomou emprestado da primeira metade dos poemas de Hilda Hilst. Desta, ele aproveita os seis primeiros dos sete poemas e os transforma em breves movimentos para esta parte central, que é a principal e a mais extensa da obra.
Em “Corpo de Terra I” ouve-se, introduzido pelos sinos, um lamento em canto monódico entoado pelo coro, que faz referência à música litúrgica medieval. A última frase deste poema (“Assim te lembro”) anuncia a atmosfera do que vem a seguir. Os movimentos II a VI, com seus respectivos poemas, destacam diferentes facetas do poeta em seu sono eterno: dorme o pastor, … o inocente, … o profeta, … o cantor, … o amigo. De cada um, surgem universos sonoros únicos, forjados a partir de combinações timbrísticas entre coro e orquestra; apenas em “Corpo de Terra V”, o barítono solista substitui a formação coral. Após a mezzo-soprano finalizar o movimento central em um breve solo sem a orquestra, “Corpo de Silêncio” conclui a obra com poucos instrumentos: os violoncelos entoam a monodia de “Corpo de Terra I”, enquanto a música se extingue apenas com os toques do sino.
Sinfonia dos Orixás (1984–85) [49’56”]
Composta entre 1984 e 1985, por ocasião da comemoração dos dez anos da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, a Sinfonia dos Orixás foi construída originalmente em três movimentos: “Chamado aos Orixás (Ritual Inicial)”, “Manifestação dos Orixás” e “Ritual Final”. O corpo principal da obra é o movimento central, dividido em 17 partes, em que são ouvidos 15 cantos dos orixás e dois interlúdios. Apesar dessas divisões, a música transcorre sem interrupções do início ao fim. Muitos dos seus motivos melódicos e rítmicos foram baseados em pontos recolhidos por sua mulher, Helenice Audi, que frequentava um centro de umbanda.
A visão de Almeida Prado sobre os orixás, segundo a qual para cada orixá há um santo correspondente, é carregada de sincretismo com o catolicismo, religião da qual era adepto. Com isso, deixou de incluir na obra Exu, pois, segundo os católicos, ele representaria o diabo. No entanto, para a crença iorubana, a invocação do Exu é fundamental para o rito, pois é ele quem faz a ligação entre os homens e os orixás. Assim, na estreia da Sinfonia, foi realizada uma improvisação com atabaques em homenagem a Exu, que foi autorizada pelo compositor e, cuja inclusão, permanece opcional nas execuções da obra.
Se observada em sua estrutura geral, a Sinfonia dos Orixás assemelha-se a uma suíte, com um movimento introdutório e outro conclusivo. No entanto, a maneira como o compositor construiu o desenvolvimento temático da peça justifica a denominação de “sinfonia”. Dois temas principais dialogam por toda a obra. O tema dos orixás femininos surge de um motivo de três notas, entoado pelas trompas e trompetes logo no início do “Chamado aos Orixás”, e vai se construindo ao longo da Sinfonia. Já o tema dos orixás masculinos sofre o processo inverso: é apresentado como um tema completo pelo corne inglês em “Oxalá I” e se dilui até ser reduzido a apenas duas notas no “Ritual Final”.
Fluem as melodias de fácil reconhecimento, que se sucedem e se sobrepõem, mas o destaque está na escrita rítmica e na ampla seção de instrumentos de percussão. O extenso movimento central apresenta uma grande variação de ambientes, como o sonoro “Obatolá”, o breve e quase estático “Ifá”, o pulsante “Ogum-Obá”, o lírico “Ibejí” e o dançante “Iansã”. “Manifestação dos Orixás” se encerra com o luminoso “Oxumarê”, preparando o “Ritual Final”. Nessa vibrante conclusão, os instrumentos entram em grupos: primeiro os metais, seguidos das cordas, da percussão e das madeiras. Cada um deles toca um motivo e o repete incessantemente, até que todos se encontrem em um brilhante e sonoro acorde, que encerra a Sinfonia.
Separadas por duas décadas, essas obras são representativas de diferentes períodos criativos de Almeida Prado e apresentam estilos distintos, mas há um elo comum entre ambas: suas estruturas são tripartidas, com um corpo central extenso, ladeado por uma introdução e uma conclusão breves.
Carlos FioriniÉ regente e professor livre-docente do curso de regência do Departamento de Música da UNICAMP. Em 2004, apresentou a tese “Sinfonia dos Orixás de Almeida Prado: Um Estudo Sobre Sua Execução Através de uma Nova Edição, Crítica e Revisada”, em seu Doutorado, também pela UNICAMP.
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