SITE POP LINE : A POLÊMICA DA PEQUENA SEREIA NEGRA. ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

 Site POP line nos informa remake da Disney com protagonista negra sofre boicote, site de avaliações críticas IMDB identifica "atividade incomum", num esforço para derrubar a nota do filme, fato também verificado pelo site em questão na avaliação do filme sobre o guerrilheiro comunista Marighella.

É um absurdo um filme sofrer boicote por causa da cor da pele da protagonista. Aliás o conto original de Andersen fala de uma seria rebelde, insatisfeita com sua condição, enquanto as sereias da mitologia clássica, só seduziam os homens cantando para atraí-los até as profundezas do mar. É uma figura mitológica que é uma minoria, está contra os valores estabelecidos no lugar onde vive e não aceita os limites desse mundo submarino . Tem tudo a ver com a luta de minorias modernas.

É impressionante essa polêmica toda ainda mais pois se compararmos o POP LINE com o meio da música clássica, desde o movimento de direitos civis nos EUA nos anos 60 e 70, solistas e cantores de ópera negros são coisa já estabelecida. Caso A Pequena Seria fosse ópera poderiam encenar a história como se fosse uma prostituta trabalhando na praia de Copacabana na esperança de que apareça um cliente que a tire dessa vida e não daria em nada, no máximo umas vaias, como a gente nota já acontecer no casos de muitas encenações esdrúxulas de óperas. Ainda dizem que o meio da música clássica é conservador!

Outra coisa a se destacar é como o maestro Lorin Maazel afirmou numa entrevista ao aficionado Bruce Duffie, musicais como West Side Story e Evita cativam a atenção de ouvintes clássicos como o próprio maestro Maazel, enquanto boa parte da musica erudita contemporânea, eu diria exceto uma ou duas entre 100 das peças estreadas, só é ouvida publicamente na estreia.

A trilha sonora de A Pequena Sereia de Alan Menken é cheia de canções assobiáveis e essas melodias cantadas pelos personagens são usadas pelo compositor na trilha sonora orquestral. Ex. no trecho dedicado aos mínions da Bruxa do Mar ouvimos a melodia da canção da bruxa, musicalmente o melhor número cantado desse musical.

Alan Menken escreveu duas trilhas diferentes para os filmes de 1989 e 2023 usando boa parte do tempo o mesmo material. Do primeiro filme a fanfarra inicial, o número de apresentação das filhas de Tritão, a Jig no vilarejo, Tour of the Kingdon, Bedtime, Wedding Announcement e o instrumental que acompanha os mínions Flotsam and Jetsam chamam a atenção como peças musicais fora do contexto do filme.

No filme de 2023 destaca-se a performance vocal forte de Halle e os agudos evitados pela bela voz de Jodi Benson no filme de 1989. Todas as canções foram rearranjadas, algumas excluídas e outras adicionadas. Destaco como o compositor mostrou, quando Vanessa canta a melodia de Ariel diante do espelho, a semelhança do tema de Ariel com a canção da bruxa, bem visível quando Vanessa se transforma em bruxa no reflexo do espelho e a melodia se transforma na música de assinatura da personagem Úrsula! No lugar da Jig no vilarejo nórdico de 1989, temos um arranjo instrumental da canção caribenha Beija a Moça tocada no vilarejo caribenho do filme de 2023. A canção do caranguejo Sebastião, que seria entre outras funções, maestro do reino, perde a apresentação dos instrumentos tocados pelas mais diversas criaturas marinhas elencadas na letra mas ganha um balé dessas mesmas criaturas com acompanhamento orquestral. Momento Antológico.

Diante disso podemos encontrar no YOUTUBE uma apresentação da Orquestra da Rádio de Viena tocando canções e trechos das trilhas de Alan Menken para os filmes da Disney, numa homenagem a ele, ou seja como havia citado anteriormente, o fenômeno de musicais ou trilhas sonoras chamando a atenção de músicos clássicos. Convidaram até uma drag queen para interpretar a música da bruxa(personagem de fato baseado em Divine, drag nova iorquina), se tivessem colocado uma travesti ou drag no cinema, aí o mundo iria se acabar...

Isaac Carneiro Victal