"CARMEN" DE BIZET EM MONTAGEM FORTE, CONTEMPORÂNEA E DESIGUAL NO MUNICIPAL CARIOCA. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA PARA O BLOG DE ÓPERA & BALLET.

          

                    Ballet do Theatro Municipal apresenta o balé completo na Carmen de Bizet

   Foi necessário aguardar o aniversário do Theatro Municipal no Rio de Janeiro, para que a temporada de ópera viesse a se iniciar, justamente no dia 14 de julho esse templo da ópera completou 114 anos de existência, e para comemorar,  foi decidido encenar a célebre ópera de Bizet. Composta entre 1873 e 1874, sua montagem criou uma série de problemas, cuja estreia foi um fracasso e escândalo no Opéra-Comique, quando subiu à cena pela primeira vez em 3 de março de 1875. Contrariado Bizet, piorou com a sua doença, causada pela incompreensão do público e da crítica especializada, e veio a falecer, em 3 de junho,  deixando essa jóia musical para a humanidade se deleitar. 

           A estética cênica dos últimos espetáculos do Theatro Municipal se resume numa pobreza de cenários, quase  minimalista, e em algumas vezes, se contradiz no tocante a figurinos que muito pouco ou nada tem em haver com a cenografia apresentada. Ora,  com a Lei de incentivo à Cultura, a realização institucional do Governo do Estado e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, da Associação dos Amigos do Teatro Municipal, a Petrobrás e outros apoiadores; o orçamento não é tão pequeno assim !
            Foi assim, no dia 21 de julho às 19h00 onde se ouviu uma orquestra instável em sua quarta récita da temporada desta ópera. Ritmos desencontrados, ora oscilantes, desafinações de alguns instrumentos, andamentos arrastados ou acelerados em seus resultados globais. Regeu a orquestra do teatro o maestro Felipe Prazeres; o coro do Municipal realizou bom trabalho cênico e vocal e a participação do Coro Infantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro colaborou com um visual bastante atraente e musicalidade bem apurada.


   Como protagonista a cantora Luisa Francesconi possui a figura adequada para a debochada, corrompida  e sensual Carmen, todavia sua voz não possui as notas graves da partitura, em que lhe pese musicalidade e bom domínio do personagem. Justamente na ária das cartas (Ato III), é que ficam evidenciados os tons mais graves ausentes em seu canto. No momento, não há outro mezzo soprano brasileiro que pudesse encarnar a Carmen com melhor desempenho vocal. 
                  Nessa récita de 21/7; o tenor Ivan Jorgensen assumiu o papel de Don José; em substituição a Eric Herrero que sentiu-se indisposto. Dono de uma bonita voz, conseguiu matizar demonstrando expressividade em seu canto, especialmente nos duetos e na ária La fleur que tu m'avais jetée,  e alcançando muito bom resultado no forte dueto final com Carmen; Je ne menace pas...j'implore...je suplie ! intensamente dramático.   

                            O tenor Ivan Jorgensen numa boa performance de Don José (21 de julho de 2023). 

         O diretor artístico do Theatro Municipal Eric Herrero se escala para realizar o Don José e, inclui também  a sua esposa,  e também cantora do coro do Municipal; Flávia Fernandes,  para realizar a personagem de Micaela. Não me parece nada ético essa atitude do senhor diretor; considerando-se que ambos se tornam foco microscópico da crítica especializada, uma vez escalados para contracenar na mesma ópera. Não teríamos uma outra cantora, ainda que no Coro do Theatro Municipal, para realizar a Micaela ? Pois bem; podemos afirmar que a sua participação foi muito aquém do que se espera para uma boa Micaela. A voz não corre, não alcança as notas agudas e sua atuação foi fraquíssima . Na sua linda ária do Ato III; Je dis que rien ne m'épouvante;.....chegou-se a imaginar que não conseguiria terminar, tão calante foi o seu canto. 
                   No Escamillo ouviu-se o barítono Leonardo Neiva, numa atuação bastante irregular, fraca cenicamente, ainda que sua canção do Toreador colhece muitos aplausos, desafinou na repetição do tema ao final do 3º ato. Nos demais papéis ouviram-se duas cantoras de melhores condições vocais e cênicas: a Frasquita do soprano lírico ligeiro Michele Menezes e de Fernanda Schleder nas vestes de Mercedes. Também Geilson Santos (Remendado) e Ciro D'Araujo (Dancairo) complementaram um bom quinteto dos contrabandistas. 
Cena do quinteto dos contrabandistas no decorrer do segundo Ato (Geilson Santos, Ciro D'Araujo, Luisa Francesconi, Michele Menezes e Fernanda Schleder. Crédito das fotos é de Daniel Ebendinger.

    Juliana Santos sugeriu a cidade de Sevilha, numa razoável direção cênica, com cenografia de Natália lana que apresentou um bonito cenário na cena das montanhas (Ato III), enriquecidos por atraente iluminação de Paulo Ornellas, impregnando bonitos tons nas diversas cenas, proporcionando uma adequada coesão com a cenografia. Quanto aos figurinos de Marcelo Marques, houve requinte e veracidade nos trajes sevilhanos. Finalmente o Ballet do Theatro Municipal abrilhantou o espetáculo com a inclusão completa da parte coreográfica desta ópera. Hélio Bejani deu sensível e refinada coreografia aos quatorze bailarinos que compuseram as danças no entreacto no início do Ato IV. Raramente apresentada, um dos belos momentos da presente montagem lírica. 
                      O ano próximo de 2024, comemora-se o centenário de morte de Giacomo Puccini, espera-se portanto, que a administração artística do Theatro Municipal, providencie a encenação de ao menos uma ópera do compositor. 
Escrito por Marco Antônio Seta, em 23 de julho de 2023.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB / SP
Diplomado em piano, teoria, solfejo, história da música, harmonia e contraponto no Conservatório Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí, SP
Licenciado em Artes Visuais na UNICASTELO, em São Paulo. 

Comentários

  1. somos uma plateia de boa .música e espetáculos cênicos!! não esperava os preciosismo de detalhes vocais e outros mais.

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  2. Os piores da Noite Escamillo e Micaela! Vergonha!

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