POR QUE A ORQUESTRAÇÃO DE RAVEL PARA OS "QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO" É A MELHOR E O CASO DE IBERIA, DE ISAAC ALBÉNIZ. ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.



Tamanho não é documento também no que se refere à orquestração. A coloridíssima suíte Sheherazade de Rimsky Korsakov não foi escrita para uma orquestra muito maior que as austeras sinfonias de Brahms, a maior diferença entre o plantel exigido nos dois casos está na percussão. Outro exemplo a Trilogia Romana de Respighi foi escrita para uma orquestra consideravelmente menor que a utilizada em quase todas as sinfonias de Mahler, mas o colorido das peças do italiano é muito maior. A boa escrita para orquestra busca o colorido mas também a clareza, tendo em mente sempre o princípio que mesmo nos tuttis mais barulhentos espera-se que seja possível escutar os violinos.

Isso é o que faz Ravel na sua orquestração para os "Quadros de uma Exposição" de Mussorgsky. ao contrário das versões de regentes como Stokowski ou Ashkenazy. A Grande Porta de Kiev instrumentada por Ravel tem gongo, bumbo e pratos mas dá para ouvir o resto da orquestra também, ao contrário das versões orquestradas por esses dois maestros citados, cheias de metais e percussão cobrindo tudo.

A própria peça original para piano é cheia de cores, se trata de um exemplo perfeito de peça para piano que inspira a ser orquestrada. Mussorgsky ao invés de escrever uma sonata escreveu "Quadros de uma Exposição", que originalidade!

A outra peça para piano orquestral por excelência é Iberia de Albéniz, tachada por Messiaen como ápice da escrita pianística e criação que mereceu o seguinte comentário de Debussy: "os olhos se fecham como que deslumbrados por terem contemplado tantas imagens."

Com certeza eu diria essa é a melhor obra com temática ibérica já composta, superando tesouros com a ópera Carmen de Bizet e as todas as maravilhas que Ravel e Debussy escreveram sob inspiração do país vizinho.

Enrique Fernández Arbós, regente e compositor medíocre e Carlos Surinach, bem compositor que escreveu por exemplo um divertido concerto para piano, orquestraram com maestria a suíte Iberia.

Destaco Corpus Christi em Sevilha orquestrada por Arbós, está no mesmo nível da trilogia de Respighi em colorido orquestral e Lavapiés instrumentada por Surinach, louca peça para piano, ouvindo-a entendemos a razão de Messiaen gostar tanto dessa música. No original
para teclado algumas passagens são escritas para 3 pautas, evocando a confusão de um bairro popular do centro de Madrid.

Ouvindo essa música a gente entende a razão do trabalho de Debussy e seus seguidores ter se tornado infinitamente mais popular que as obras de Schoenberg e sua escola. Apesar das associações com a pintura e a literatura, na obra de Debussy a música e seus elementos primordiais como o timbre, o ritmo, a harmonia e a melodia sempre são o mais importante, ele realmente é um antídoto contra o Wagnerismo teatral mas também contra o formalismo da tradição sinfônica germânica.

Isaac Carneiro Victal

Comentários

  1. Trucidar uma obra de arte é um crime! No momento o Municipal de SP está levando Tristão e Isolda nos tempos atuais!!!Mas como dizem,tem público para tudo😡

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  2. Gostaria também de falar sobre as minhas interpretações favoritas dessas peças. Quando desejo ouvir os "Quadros" de Mussorgsky em versão para piano, costumo recorrer aos pianistas Lazar Berman, Aldo Ciccolini, Alexis Weissenberg, Evgeny Kissin e Yulianna Avdeeva. Já a orquestração de Ravel para essa peça encontrou brilhantes defensores como Giulini, Mehta, Ozawa, Sinopoli e André Previn, todos deixaram gravações clássicas dessa peça.

    A versão para teclado de Iberia de Albéniz foi cavalo de batalha de Alicia de Larrocha enquanto ela viveu, até hoje essa intérprete intimida qualquer pianista que toque Iberia. Além dessa referência absoluta, podemos acrescentar os nomes de Jean François Heisser, Esteban Sanchez, Yvonne Loriod, Aldo Ciccolini de novo, Claude Helffer, Rafael Orozco, Rosa Torres Pardo, Arthur Pizarro e Nelson Goerner. As orquestrações de Arbós das 5 peças de Iberia foram ignoradas por muitos grandes maestros, além disso, incrivelmente receberam interpretações terríveis de nomes como Antal Dorati e Charles Munch. Por outro lado tiveram muita sorte essas orquestrações nas mãos dos diretores Ernest Ansermet, Fritz Reiner, Ataulfo Argenta, Daniel Barenboim( se saiu melhor regendo essa peça do que tocando), José Serebrier, Eduardo Mata, Manuel Galduf, Enrique Bátiz, Yan Pascal Tortelier e Jorge Mester. A orquestração do ciclo completo de Surinach encontrou em Jesus Lopez-Cobos o único maestro que realizou uma gravação moderna da obra!
    Isaac Carneiro Victal.

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    1. Eu não coloquei entre as minhas preferências gravações preferidas por muitos como os Quadros de Mussorgsky por Sviatoslav Richter ou Horowitz, o primeiro por achá-lo muito percussivo e nada colorista e o segundo me parece ter abordado essa peça sob um viés de exibicionismo virtuosista. Também não incluí as gravações de Claudio Arrau de seleções de Ibéria, por considerar o desempenho dele nesta obra muito aquém do que esse artista foi capaz de demonstrar em outros repertórios.
      Não mencionei as 2 gravações de Rafael Fruhbeck de Burgos de 3 peças de Ibéria orquestradas por Arbós por só conhecer uma delas, realizada com a Orquestra do Conservatório de Paris e esta gravação não me agrada, mas posteriormente esse maestro realizou uma gravação digital muito melhor, que eu escutei recentemente no site da RTVE, dessa seleção de 3 peças com a Orquestra Nacional de Espanha. Postei esse comentário como resposta aos admiradores desses artistas citados, caso alguém venha perguntar a razão de eu não ter falado deles! Isaac Carneiro Victal.

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    2. Eugene Ormandy gravou com sua Orquestra da Filadéfia uma versão completa nada idiomática de Iberia, além disso contando com um antiquado som mono, por isso descartamos essa versão. Outra gravação completa de Iberia orquestrada por Arbós e Surinach, dessa vez com resultados muito melhores e som estéreo, foi realizada por Jean Morel e a Orquestra do Conservatório de Paris. Isso é tudo! Isaac Carneiro Victal

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  3. Faltou dizer que os intérpretes "negligenciaram" e não deram sequer atenção a Obra até que a mesma fosse orquestrada por Ravel e se tornasse o sucesso mundial que é hoje. E este padrão continua até hoje em relação aos compositores...

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  4. Triste destino da ópera no Teatro Municipal de São Paulo. Já mudaram também o encanador do 🛳️ Navio de Wagner. Lá vem inovações e criação indesejada do público.

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    1. Aqui no Rio de Janeiro é a mesma coisa. Saudades de 1980, operas maravilhosas!

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    2. A verdade é que há diretores artísticos que não entendem e não gostam daquilo que lhe confiou o poder público. O resultado é péssimo ao nível da verdade e enganam os patrocinadores da ópera e ao público com aquela pantomima que lá apresentam. Como quase ninguém entende do babado, fica o dito pelo não dito....

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    3. O público vai lá e aplaude tudo....e eles se acham os maiorais da ópera. Triste percurso da inverdade.

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