O JOVEM FRANKENSTEIN : SATÍRICO MUSICAL NO COMPASSO DE UM IRREVERENTE VAUDEVILLE. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

O Jovem Frankenstein. Um musical de Claudio Botelho/Charles Möeller. Setembro/2023. Fotos/Caio Gallucci.

Depois de ter surgido na ficção gótica da inglesa Mary Shelley, há cerca de dois séculos, o monstruoso personagem reapareceu num clássico do terror fílmico de 1931 - Frankenstein, de James Whale, que imortalizou sua caracterização física na interpretação de Boris Karloff.

Mas coube a Mel Brooks, roteirizando e co-dirigindo numa parceria cinematográfica com o diretor Gene Wilder, em 1974, torná-lo um sucesso popular nas telas mundiais, numa ironizada e mordaz crítica ao clichê dos filmes de terror. Transmutando-o, em 2007, num musical da Broadway que, finalmente, chega aos palcos brasileiros, em mais uma versão da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho, aqui, para O Jovem Frankenstein.

Seguindo as premissas do filme, Mel Brooks revira ao avesso o conceitual do gênero terror, retomando uma linha narrativa básica do terrir ao trocar o susto pelo riso e fazendo o  espanto se transformar em lúdica e energizada diversão musical. E, agora, por sua vez, Claudio Botelho reinsere no roteiro precisos e bem humorados toques conectados ao hoje e à realidade brasileira.

Pela narrativa dramatúrgica/musical o Dr. Frederick Frankenstein (Marcelo Serrado), especialista em anatomia numa faculdade americana de medicina, faz viagem a Transilvânia para retomar o legado ancestral de seu avô, dublê de cientista louco, como um reanimador de cadáveres em seu sinistro castelo.

O Jovem Frankenstein. Um musical de Claudio Botelho/Charles Möeller. Setembro/2023. Fotos/Caio Gallucci.

Cruzando ali com exóticos tipos como o corcunda Igor (Fernando Caruso), a alucinada governanta Frau Blücher (Totia Meirelles), a sensual assistente do laboratório Inga (Malú Rodrigues), sem esquecer do próprio Monstro  (Hamilton Dias), além de outros papéis relevantes por Bel Kutner, Claudio Galvan, Dani Calabresa, todos se destacando num super elenco de atores, cantores, bailarinos e músicos.

Num cast de primeiríssimo time, todos  empenhados em dar o melhor com similar timing cênicodesde as partes solistas aos duos, extensivas às atuações grupais mantendo o esmero vocal e performático tanto nos papéis de maior protagonismo como nas representações coletivas, indo de números musicais mais líricos a outros de energizada exaltação.

Ambientados na completa plasticidade de impressionável paisagem cenográfica (Charles Möeller) entre os interiores e as cenas externas, sob o requinte de figurinos (João Pimenta) de época, com um sotaque de modernidade e de climatização gótica, sendo tudo isto ressaltado com o brilho costumeiro dos efeitos luminares de Paulo Cesar Medeiros.

A trilha e as letras das canções, a partir de uma original criação do próprio Mel Brooks, incluindo instantâneos recortes antológicos de filmes e musicais célebres, com citações e lembranças visuais/sonoras que vão de Irving Berlin a Lloyd Weber, ou paródias de temas românticos como Oh, Sweet Mistery of Life.

Com um alcance carismático na evocação da envolvente passagem coreográfica a partir do “Puttin’on the Ritz”, emblematizado por Fred Astaire e, também, um dos altos momentos no filme e no musical de Mel Brooks. Mantendo num mesmo grau de apuro tanto a direção de movimento (Roberta Serrado e Joane Mota) como o sempre bem cuidado score instrumental para nove músicos, sob o comando de Marcelo Castro.

Numa encenação pontuada por gags que ironizam o grande music hall, ora muito espirituosas ora com o desaforo de provocar gargalhadas, em trocadilhos verbais obscenos ou no abuso do duplo sentido, aliada a uma assumida ridicularização gestual e facial de personagens como o Homem Monstro ou no atrevimento erotizado de cenas amorosas com Inga. Amparada, sempre,  na criatividade autoral da adaptação de Claudio Botelho e no inventivo tônus direcional e concepcional de Charles Möeller.

Sem deixar de levar em conta os reconhecidos méritos artísticos e profissionais desta montagem para os palcos, perpassa a sensação de superficialidade no seu assumido descompromisso ao provocar apenas o riso pelo riso numa fabulação ingênua e superada de ficção científica.  O que já na época de sua estreia no circuito Broadway chegou a dividir tanto o público quanto a crítica.

Numa clara impressão comparativa de que o filme original, mesmo com seu desgastado apelo temático de déjà vu, continua sendo, pelo olhar conceitual e estético, muito mais cult que o formato de O Jovem Frankenstein como teatro musical...



                                           Wagner Corrêa de Araújo

O Jovem Frankenstein está em cartaz no Teatro Multiplan / Village Mall, quinta e sexta, às 20h; sábado, às 16 e 20h; domingo, às 16h. Até 8 de outubro.

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