BEETLEJUICE : IRREVERENTE EXCURSÃO MUSICAL AO REINO DOS MORTOS E DAS SOMBRAS. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Um filme de Tim Burton, que se tornou um cult do terrir gótico, além de grande sucesso comercial, desde seus lançamento em 1988 – Beetlejuice (aqui subtitulado como Os Fantasmas se Divertem) - servindo de mote inspirador para o musical do circuito Broadway, em 2018/2019.
E que está chegando agora aos palcos brasileiros como Beetlejuice, O Musical, em mais uma das artesanais direções concepcionais de Tadeu Aguiar, sob um ideário de ousada criação cenográfica, para um grande elenco com luminosa protagonização titular de Eduardo Sterblitch.
Onde o sobrenatural no afrontamento do desconhecido, por trás do post-mortem, é tratado com instigante humor, subliminarmente ácido e burlesco, muito longe do sombrio e do mórbido no entorno do que habitualmente cerca a terminalidade fatalista da condição humana.
Abordado tematicamente, desde a grandiloquente cena de abertura do musical, com um suporte estético operístico na representação de um velório transmutado num show performático de teatro coreográfico entre a vida e a morte e onde já fica perceptível o apuro tecno-artístico que norteia esta produção.
Beetlejuice, O Musical. Tadeu Aguiar/Direção Concepcional. Em cena, Eduardo Sterblitch e Ana Luiza Ferreira. Novembro/2023. Fotos/Léo Aversa. |
Inicializada a partir dos acordes melancólicos de um cântico de tonalidade gospel metamorfoseado em apoteótica aparição sobre um funéreo catafalco, com provocadora postura interativa de questionamento palco/plateia, e que vai se tornar sequencial nas quebras da quarta parede pelo personagem Beetlejuice (Eduardo Sterblitch).
Ao lado dele, se delineando as representações de um afinado elenco personificador de fantasmas ou mortos vivos, presencial da ambiência da ex-residencia de um jovem casal falecido - Adam (Marcelo Laham) e Barbara (Helga Nemetik) às cenas do submundo infernal, onde recorrem ao espírito malévolo de Beetlejuice para expulsar os invasores.
A tal casa, agora, ocupada por outra dupla amorosa – Delia (Flavia Santana) e Charles Deetz (Joaquim Lopes), mais a filha paterna – a adolescente Lydia Deetz (Ana Luiza Ferreira) incapaz de aceitar a substituta de sua mãe morta. Sucedendo-se, aos poucos, outros convictos atores em papéis básicos tais como Gabi Camissoti, Sylvia Massari, Pamella Machado, Jorge Maya, Erika Affonso e Tauã Delmiro, integrando um cast de 26 nomes.
Onde o palco é ocupado por uma das mais exponenciais arquiteturas cenográficas (Renato Theobaldo) dos últimos tempos capaz de lembrar, na sua conexão de elementos macabros com cores aquareladas, do universo fílmico da ficção cientifica à fantasia dos desenhos animados.
Sob uma sutil referência à plasticidade das pinturas de Beatriz Milhazes que se estende aos sugestivos figurinos da dupla Dani Vidal e Ney Madeira, aliada ao visagismo espectral de Anderson Bueno, entre as claridades psicodélicas e as sombras fantasmagóricas dos efeitos luminares (Daniela Sanchez).
Tudo complementado pelos acordes nada bucólicos ou românticos de uma trilha (Laura Visconti) que privilegia a agitação pop roqueira entremeada por recortes de ritmos latinos como o calypso, em citações composicionais de Harry Belafonte. Ampliada numa envolvente corporeidade gestual dançante através de Sueli Guerra, paralela ao brilho vocal dos atores/bailarinos.
O sotaque atoral de Eduardo Sterblitch como Beetlejuice soando entre o humor negro e uma certa selvageria lúbrica com seu vocabulário obsceno pleno de sarcasmo mordaz, mas sempre num timing irretocável, enquanto lamenta a sua dor de um ser espectral sonhando, mesmo assim, em ser abraçado e amado.
Num musical irreverente que a alguns pode incomodar mas que ao ser caricato sobre a instantaneidade da trajetória existencial, não deixa de ser lúdico e reflexivo, pois afinal, segundo seu idealizador Tadeu Aguiar, no uso das palavras certas para horas incertas : “É um espetáculo que fala de morte, celebrando a vida. Tem coisa melhor?’’...
Wagner Corrêa de Araújo
Beetlejuice, O Musical está em cartaz na Cidade das Artes/Barra, quinta e sexta, às 20:30; sábado, às 16 e 20:30; domingo, às 16:00. Até 10 de dezembro.
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