RICARDO AMARANTE / TRILOGIA : O BRILHO DE UM COREÓGRAFO BRASILEIRO NA COMPAÑIA COLOMBIANA DE BALLET. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

Compañia Colombiana de Ballet /Trilogia. Ricardo Amarante/Coreografia. Novembro/2023. Fotos/Juan Arias.


Ballet del Teatro Colón, criado em 1925, foi a primeira cia clássica oficial da América Latina, seguido do Balé do Theatro Municipal/RJ em 1936, numa bela iniciativa de Maria Olenewa. Uma tradição coreográfica que se estendeu também ao Ballet de Santiago e que, durante dezesseis anos, foi dirigido pela brasileira Marcia Haydée.

Estas três companhias estatais são as únicas que mantiveram viva em seus repertórios, no hemisfério sul americano, a prevalência do balé clássico. Onde o protagonismo estético que as igualava num mesmo patamar hoje é, sem dúvida alguma, do Ballet Estable del Teatro Colón, com suas temporadas plenas de grandes produções clássicas, dando também espaço ao contemporâneo.

E, agora, chega aos nossos palcos pela primeira vez e numa rápida turnê, a Compañia Colombiana de Ballet, criada no início deste milênio, como a única daquele país que estabelece sua linhagem artística a partir da base clássica. Sendo dirigida, no momento, pela reconhecida competência do coreógrafo Jose Manuel Ghiso, ex solista do Balé de Santiago quando comandado por Márcia Haydée.

Num programa todo composto por obras de mais um destes brasileiros que já há algum tempo vem se destacando, além fronteiras, com suas criações coreográficas. Estamos falando da trajetória do paulista  Ricardo Amarante, do inicio como bailarino  em sua passagem por cias européias, desde o time de primeiros solistas do Royal Ballet of Flanders, onde estreou sua primeira coreografia autoral (A Fuego Lento), à apresentação de seus balés em teatros pelo mundo afora.  

Em data recente tivemos inclusive a chance de ver duas obras de Ricardo Amarante numa première com o Balé do Teatro Municipal/RJ, na sua versão do Bolero de Ravel e também com Love Fear Loss. A última delas, agora, fazendo parte do repertório apresentado pela Compañia Colombiana de Ballet.

Compañia Colombiana de Ballet /Trilogia. Ricardo Amarante/Coreografia. Novembro/2023. Fotos/Juan Arias.

Estruturada no formato de três pas-de-deuxLove Fear Loss tem como substrato inspirador a temática lírica e trágica de quatro canções que celebrizaram Edith Piaf. Em releituras pianísticas, de La Vie em Rose, com representação apenas sonora, no eclodir da paixão amorosa (Hymne a l’Amour) sequenciado pelos conflitos da separação (Ne Me Quitte Pas) à dor causada por uma terminalidade fatalista ( (Mon Dieu).

No entremeio dos acordes em compasso de prevalentes adágios, sucedendo-se os seis bailarinos em arabescos, giros, entrelaces e elevações numa luminosa performance com absoluta entrega amorosa dos três casais. Seguindo-se com Longing, a segunda peça da noite, uma sensorial linguagem gestual capaz de expressar os diferentes ciclos no surgimento das paixões.

Do mágico encantamento mútuo de corpos que se encontram ao descortino dos desejos sensuais quando se tocam, o que vai se revelando na intensidade de uma híbrida corporeidade entre o lirismo e a sexualidade desnudada. Em expressiva criação de Ricardo Amarante para onze bailarinos, desta vez sob os dúplices acordes musicais de Pablo Ziegler e Astor Piazolla.  

Para tudo se direcionar, em Fuego Lento, a uma apaixonante dramaturgia da fisicalidade, na espontânea incorporação dançante do tango de raiz (Carlos Gardel) ao livre compasso das composições de Lalo SchifrinAstor Piazzola e Sayo Kosugi, numa energizada coreografia de estética neoclássica.

Convergindo para uma performance reveladora no seu compartilhamento emotivo palco/plateia enquanto traz, através das surpreendentes criações de Ricardo Amarante para um afinado elenco de bailarinos, a qualitativa marca estética da Compañia Colombiana de Ballet no universo coreográfico da América Latina.

 


                                            Wagner Corrêa de Araújo

Trilogia/ Compañia Colombiana de Ballet está em turnê por diversas cidades brasileiras, tendo passado por Belo Horizonte, Juiz de Fora e Rio de Janeiro (Teatro Riachuelo, dias 4 e 05/Novembro) seguindo para São Paulo e Brasília. 



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