A LENDA QUE NÃO É LENDA. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET SOBRE A ÓPERA "MADAMA BUTTERFLY" QUE ESTÁ EM CARTAZ NO THEATRO MUNICIPAL DE SP.
Este pequeno artigo não quer dizer que não existam bravos sopranos japoneses como Madama Butterfly.
Fui no Brasil o primeiro ( ? ) a escrever em vários veículos da imprensa que Puccini não gostava de sopranos japoneses cantando o papel de Cio-Cio-San, ou seja de Madama Butterfly, na sua arqui-famosa ópera. Ajuntei que, além de fontes escritas da maior autoridade, isso me foi dito em pessoa por Simonettta Puccini, única descendente do compositor, filha única de seu único filho, Tonio, ainda viva, ativa e com muita saúde em 1995, quando a conheci em Torre Del Lago, ocasião em que minha mulher Leila Guimarães lá cantou seis récitas de Turandot ( tenho fotos de Simonetta a meu lado).
Além disso, quem vai a Tordelago (dialeto toscano) ouve a toda hora em todos os lugares essa antipatia de Puccini por japonesas na pele de Butterfly. Tanto que, quando canceladas as récitas na Scala em 02/1904, não foi um soprano japonês o escolhido para a árdua tarefa de reabilitar Butterfly em Brescia, mas o grande soprano galício/polonesa Salomea Kruschenicka. E durante toda a vida de Puccini, ele não gostava de japonesas como Butterfly, só aceitando a contragosto Tamaki Miura por render esse soprano muito dinheiro. Depois do fim da 1ª Guerra Mundial em 1918, virou moda Butterfly japonesa.
Mas a pá de cal no assunto, levianamente chamado “lenda”, quem joga é o maior e mais autorizado biógrafo de Puccini, Mosco Carner, que escreve: “Depois da primeira guerra mundial, tornou-se moda contratar cantoras japonesas para a parte da protagonista, com intenção de dar autenticidade à ambientação exótica, COISA QUE NÃO AGRADAVA DE MODO ALGUM AO AUTOR, O QUAL ACHAVA AQUELAS VOZES NÃO MUITO AGRADÁVEIS.”
Isto está escrito pelo maior biógrafo de Puccini, que cita as fontes e segue esclarecendo tudo. ( CARNER, MOSCO – “GIACOMO PUCCINI – BIOGRAFIA CRITICA”, VERSÃO EM ITALIANO, EDITRICE IL SAGGIATORE – ITÁLIA, VERONA, 1961, PÁG.207, TRADUÇÃO DE MARCUS GÓES.)
A fonte que dá mais firmeza à afirmação de Carner é o que se lê na declaração de VINCENT SELIGMAN, AMIGO PESSOAL DE PUCCINI, NO LIVRO “ PUCCINI AMONG FRIENDS”, PUBLICADO EM LONDRES EM 1938. Carner cita essa fonte. Há outras fontes com autoridade e segurança afirmando o mesmo que Carner e Seligman, não necessárias para não aborrecer o leitor.
MOSCO CARNER (1904/1985) foi um musicologista e diretor de teatros inglês nascido na Áustria, que se notabilizou por várias obras escritas, das quais a mais famosa e consultada é a biografia crítica de Puccini acima citada.
Este pequeno artigo não quer dizer que não existam bravos sopranos japoneses como Madama Butterfly. Puccini é que não gostava.
DOLCE NOTTE, QUANTE STELLE – NON LE VIDI MAI SI BELLE…(LUIGI ILLICA )
MARCUS GÓES (1939-2016)- DEZ 2014
MARCUS GÓES (1939-2016)- DEZ 2014
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