TEATRO COLÓN DE BUENOS AIRES, FOI ELEITO O MELHOR DO MUNDO. ARTIGO DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Assistir a um espetáculo no Teatro Colón, e ainda mais quando se trata de uma ópera, é esperar excelência. Este espaço, com a sua rica história e décadas de temporadas com solistas, produções e regentes de orquestra do mais alto nível, tem sido uma referência de qualidade artística. Em tempos passados, o Colón foi o trampolim para carreiras internacionais, antes de chegar a locais como o La Scala de Milão.
Foi o caso de "Turandot" de Giacomo Puccini recentemente no palco desse teatro, onde o soprano que cantou no domingo 19 de maio, Veronika Dzhioeva apresentou um registro central poderoso e expressivo, com as notas mais agudas, sua voz apresentava sinais de tensão e cansaço. Durante os momentos-chave dos enigmas, onde a intensidade e a agilidade vocal são cruciais, Dzhioeva lutou para manter a clareza e a projeção, o que afetou a credibilidade e a emoção do personagem. Cresceu, entretanto no decorrer do Ato III, e venceu bem o papel.
No papel do Príncipe desconhecido, Calaf, teve a interpretação do tenor argentino Marcelo Puente, também encontrou desafios musicais que limitaram a sua atuação. Voz escura de tenor heróico, embora demonstrasse um compromisso indubitável com o papel, faltava à sua voz a consistência e a beleza necessárias para transmitir plenamente a emotividade e a força do personagem. Os momentos mais intensos e emocionantes, como a cena dos enigmas e a ária "Nessun dorma" transcorreram com um timbre irregular, o que diminuiu o impacto e a profundidade de sua atuação.
Lucas Debevec Mayer brilhou como Timur, com uma voz que encheu de forma notável o palco de Buenos Aires. Seu fraseado e classe de performance foram notáveis. Timur, o pai idoso do protagonista Calaf, é um personagem que traz profundidade emocional à ópera, e a atuação de Mayer foi convincente e comovente.
Nos demais papéis a Liú de Jaquelina Livieri conseguiu proporcionar momentos de verdadeira delicadeza em suas duas árias líricas. O resto do elenco teve um bom desempenho, sem se destacar particularmente. O trio Ping, Pang, Pong, liderado pelo barítono Omar Carrión , apresentou um desempenho sólido. Carrión exibiu um timbre nobre e redondo, enquanto Carlos Ullán (Pong) forneceu uma interpretação ágil e vocalmente clara. Darío Schmunck completou o trio com uma atuação eficaz, embora sua projeção tenha sido um pouco modesta. Gabriel Renaud teve uma atuação digna como Altoum.
A encenação, idealizada pelo lembrado diretor Roberto Oswald e interpretada por Aníbal Lápiz , que assina também o vestuário da ópera, mostrou sua grandeza e esplendor, mas também revelou sinais de envelhecimento. O Coro Estável, o Coro Infantil do Teatro Colón sob a direção de César Bustamante e a Orquestra Estável, sob a direção de Carlos Vieu deram a contribuição envolvente e satisfatória para que o espetáculo fluísse majestoso.
Com compreensível orgulho, o Teatro Colón difundiu nestes dias uma pesquisa de opinião promovida pelo website http://www.Travel365.it em que lidera a lista dos 15 teatros de ópera mais “importantes” do mundo.Atrás ficaram, nesta ordem, Scala de Milão, Massimo de Palermo, Opera Garnier de Paris, Opera de Viena, Covent Garden de Londres, Fenice de Veneza, Met de Nova York, Opera de Praga, Fox Theatre de Detroit, Opera de Copenhague, Bolshoi, Opera de Sidney, Opera do Malgrave de Bayreuth e o Teatro San Carlo, de Nápoles.
Como o nome indica, o website Travel365 não é um site de música, mas de turismo, portanto o resultado da pesquisa não deveria nos surpreender. Como edifício, o Teatro Colón é, sem dúvida, majestoso. Tem pouco mais de um século e é valorizado não apenas por turistas, mas também pelos argentinos e artistas.
Há pouco tempo perguntaram ao grande tenor alemão Jonas Kaufmann em um programa na televisão francesa: “Fora de Paris qual é o seu teatro favorito? O Met de Nova York, o Scala de Milão, Londres?”, perguntou o apresentador.
“O meu teatro favorito fica em Buenos Aires. É o Teatro Colón. Ele tem uma acústica de sonho; dá vontade de pegá-la e levá-la com a gente”, respondeu o tenor Kaufmann.
E assim, outros cantores líricos estrangeiros e nacionais, pianistas, instrumentistas e maestros regentes coincidem nesta opinião. A lista seria infindável para enumerá-los.
A exemplo desta quarta (4ª) reposição em cena da ópera "Turandot", num teatro de fama internacional, que sirva de exemplo a São Paulo, em seu Theatro Municipal, para que se crie o hábito de repor em cena as produções de óperas bem sucedidas, como ultimamente, citem-se a "Carmen", de Bizet; "La Traviata" (2018); "Rosenkavalier", de Strauss; a "Madama Butterfly" (2024) entre as mais recentes. É costume nas últimas administrações das organizações sociais de cultura em nosso Theatro Municipal, a que todos já conhecem muito bem; descartar as produções líricas efetuadas, pois na próxima vez, que aquele mesmo título for apresentado, cria-se tudo novo, com outro diretor de cena, outros cenários, e o que é pior, muitas vezes em qualidade muito inferior e deturpando toda a ópera em sua originalidade, inserindo criações inexistentes no enredo da obra: Exemplos disso, tivemos a Aída,(Verdi) de 2022 e Il Guarany em 2023, dois verdadeiros acintes, aberrações agressivas da produção lírica paulistana. Nunca mais que voltem à cena. Dinheiro público, dos cofres municipais, somado ao dos prezados patrocinadores que acreditam que o acervo do Municipal encontra-se em construção, o que tudo não passa de uma ilusão, pois o que se gastou com essas produções, é descartado, para nunca mais apresentar. Uma ideia muito inteligente.....!!
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB/SP Diplomado em piano, teoria, solfejo, harmonia e contraponto no Conservatório Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí, Estado de São Paulo. Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, São Paulo/SP
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