A NOVIÇA REBELDE, RETOMADA AFIRMATIVA DO IMBATÍVEL SUCESSO DE UM MUSICAL ICÔNICO. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

A Noviça Rebelde. Musical de Rodgers and Hammerstein.  Charles Möeller e Claudio Botelho / Direção Concepcional. Junho/2024. Fotos/Caio Gallucci.

“The Sound of Music” é o titulo original do musical popularizado como A Noviça Rebelde e que há mais de meio século vem encantando públicos de todas as idades, além de ser um dos melhores exemplares do gênero, tanto na sua versão teatral na Broadway (1959) como na cinematográfica (1965), com direção de Robert Wise e no insuperável protagonismo de Julie Andrews.

Na sequência de clássicos da era de ouro do musical americano como Oklahoma, South Pacific, Carousel e The King and I, The Sound of Music foi a derradeira obra desta parceria Richard Rodgers/Oscar Hammerstein, com a morte do segundo meses após a estreia. Tendo o libreto de sua autoria se inspirado tanto na autobiografia – The Trapp Family Singers - como numa adaptação fílmica germânica, do final dos anos 30.

Onde o score sonoro de Rodgers extrapolou a ideia inicial de utilização do repertório das canções da Família Trapp, tendo imortalizado alguns hits autorais do original da Broadway desde o tema titular às melódicas e assobiáveis canções como Do-Re-Mi, So Long Farewell, My Favorite Things, além das romantizadas Climb Ev’ry Mountain ou Edelweiss.

Campeão de prêmios, desde os Tony aos Oscars, resgatou inclusive a popularidade do musical cinematográfico anos 50, como um epígono ou uma volta ao formato que celebrizou o gênero, na sua adaptação às telas em 1965. Com ecos também no Brasil fazendo do filme um fenômeno de público e eternizando sua trilha sonora.

A Noviça Rebelde. Musical de Rodgers and Hammerstein.  Charles Möeller e Claudio Botelho / Direção Concepcional. Junho/2024. Fotos/Caio Gallucci.

Agora, 16 anos depois, a dupla Claudio Botelho/Charles Moeller retoma um de seus maiores êxitos, desta vez com uma mais arrojada concepção cênica e maior substrato dramatúrgico tanto na representação do extenso elenco e na contribuição de artistas e técnicos, como na valoração temática do feminino, a partir do protagonismo rebelde e irreverente de uma noviça em busca de novas perspectivas existenciais e amorosas.

Sem deixar de lado, outro primoroso staff musical, tanto no acerto vocal da maioria dos cantores/atores, como nos arranjos e na orquestra sob o comando seguro do maestro Marcelo Castro. Com grande cumplicidade e adesão emotiva da plateia para os solos e corais das sete crianças Trapp, em participações alternativas com outros atores infantis.

De destaque absoluto para Malú Rodrigues não só por suas preciosas tessituras vocais, como pelo potencial carisma com que praticamente conduz, como atriz/cantora, a progressão dramática da narrativa. Ao lado de experientes nomes do musical pátrio, como uma soberba Analu Pimenta (Madre Superiora), uma energizada Ingrid Gaigher (Baronesa Elsa Schraeder) e na jovial performance de Eduardo Borelli (no papel do carteiro Rolf) e Larissa Manoela como Liels, a primogênita dos irmãos Trapp.

Com a participação, ainda, de exclusivos e competentes intérpretes teatrais que não comprometem mas não convencem pela limitação como cantores, tanto Pierre Baitelli num refinado Capitão Von Trapp, como Pedroca Monteiro em humorizado Tio Max com um tom burlesco em sua caracterização referencial de um excentrico personagem popular do palco e da televisão.

Aliando tradicionalismo tanto nos figurinos (Karen Brustollin) como na surpreendente criação de Nicólas Boni conectando recursos digitais ao aparato cenográfico sob uma avançada inovação técnica ressaltada na modernidade dos recursos projecionais e nos precisos efeitos luminares ( Paulo Cesar Medeiros).Com uma elegante adequação à proposta no gestual coreográfico (Dalal Achcar).

Tudo, afinal, audacioso, sobretudo na integralização do seu aporte estético de teatro total quase de referencial operístico, e da abrangente envolvência afetiva e sensorial do grande público.

Reafirmando, mais uma vez, o dúplice teor inventivo, na versão de Claudio Botelho e no comando diretorial de Charles Möeller, esta mágica volta da Noviça Rebelde dá credibilidade à transposição do musical que vem lá de cima, transcedendo na autenticidade identitária de seu conceitual criador e no seu alcance artístico de conquista abaixo da linha do equador.

Wagner Corrêa de Araújo

A Noviça Rebelde. Musical de Rodgers and Hammerstein.  Charles Möeller e Claudio Botelho / Direção Concepcional. Junho/2024. Fotos/Caio Gallucci.

A Noviça Rebelde está em cartaz no Teatro Riachuelo, quintas, às 19hs; sextas, às 20hs; sábados e domingos, às 15h e 19h. Até 23 de junho de 2024.

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