ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS EM HOMENAGEM A PUCCINI COM "MADAMA BUTTERFLY". CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Artista das emoções intensas e profundas, Giacomo Puccini (1858-1924). soube como nenhum outro carregar a tradição da ópera italiana para o século XX, mantendo toda a paixão e a expressão dramática que a tornaram tão popular nos anos anteriores com Bellini, Rossini, Donizetti e Giuseppe Verdi.
Com seu apreço por orquestrações pomposas, deslumbrantes ou essencialmente líricas, além de uma sensibilidade teatral única, capaz de comover até a mais fria das plateias, Puccini criou óperas que rapidamente se tornaram clássicos queridos do repertório lírico, como Manon Lescaut, La Bohème, Tosca, Turandot e Madama Butterfly..
O mérito deste concerto Allegro&Vivace, realizado em 13 e 14 de junho, Outono de 2024; recai sobre o ilustre Maestro Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais que programou a homenagem da temporada 2024 ao grande compositor Giacomo Puccini (1858-1924). Mechetti que é ascendente de uma família de maestros regentes, Sisto Mechetti e Marcello Mechetti (seu avô e pai, respectivamente, foram maestros do Coral Lírico Municipal de São Paulo, corpo estável do Theatro Municipal, durante muitas décadas, e depois Fabio Mechetti, também assumiu esse cargo; demonstrando assim, sua afeição à ópera, este extraiu da refinada orquestração de Puccini, bela sonoridade e um requinte único da Filarmônica, todavia em alguns trechos mais dramáticos, excedeu em volume sonoro, encobrindo aquelas vozes mais delicadas. Entretanto os músicos deram a expressividade que Puccini solicita em sua partitura mestra.
Camila Provenzale assumiu o papel de Cio-Cio-San. Para esse imenso personagem se faz necessário um soprano lírico spinto absoluto, para preencher toda a gama de situações expressivas de Butterfly, como o lirismo do Ato I e a dramaticidade dos Ato II e III. Provenzale não possui esse registro vocal e sua voz pequena, cuja emissão e projeção são muito curtas, não satisfazem a tessitura de Cio-Cio-San, registre-se que a orquestra encobria a sua delicada voz em inúmeras passagens.
Matheus Pompeu o tenor que representou Pinkerton saiu-se muito bem em papel adequado ao seu registro: no love duet ( Viene la sera...."Bimba dagli occhi pieni di malia") com voz quente e bem timbrada, destacou-se entre os intérpretes, da mesma forma que o argentino Alfonso Mujica, que à última hora, substituiu o seu colega H.Iturralde. Com voz de barítono deu expressiva contribuição ao Sharpless, o consul americano em Nagasaki.
Luisa Francesconi realizou a Suzuki tão fiel a Butterfly. O seu registro de mezzosoprano não é o adequado a esse personagem, cujo timbre é claro; o qual requer um timbre mais escuro para a Suzuki. Daí as lacunas a uma interpretação mais dramática e consistente ao drama.
Daniel Umbelino um especialista no "bel canto", especialmente em oratórios e cantatas de câmara e nas óperas de Rossini (O Barbeiro de Sevilha, A viagem a Reims, La Cenerentola, La Gazza Ladra, La Scala di Seta e L'Italiana in Argelia, e também Don Pasquale (Donizetti), o tenor apresentou ótima leitura musical do Goro, o agente matrimonial insolente e atrevido nos cenários que compõem esta ópera.
Savio Sperandio o baixo cuja voz sempre marcante em suas interpretações, viveu um Tio Bonzo de impressionante presença vocal. Seu repertório abraça grandes personagens: Ramphis, Zaccaria, O Grande Inquisidor, Don Ruy Gomes da Silva, Padre Guardiano, Ludovico, Sparafucile (G. Verdi). Neste ano teremos a oportunidade de ouví-lo no gran sacerdote Zaccaria do "Nabucco", no Theatro Municipal de São Paulo, a partir de 27/9 a 05/10/2024.
Johnny França barítono que compôs dois personagens: o Comissário Imperial e o príncipe Yamadori. Voz bem timbrada deu a expressividade e a qualidade em seu fraseado, numa interpretação em que demonstra o seu domínio no gênero lírico, especialmente nos personagens que já tem abordado.
Finalmente o soprano Thayana Roverso fez uma Kate Pinkerton discreta e correta.
Registro forte é a presença do Coral Lírico de Minas Gerais que abrilhantou a ópera sobretudo na entrada de Cio-Cio-San "Ancora un passo, or via" e no famoso coro a boca chiusa "humming chorus", onde as vozes dos (sopranos, contraltos e tenores) murmuram sobre acompanhamento das cordas, harpa e flautas.
Marco Antônio Seta viajou a Belo Horizonte especialmente para assistir ao concerto de 14/6/2024.
Escrito por Marco Antônio Seta
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB
Diplomado em piano, teoria, solfejo, história da música, harmonia e contraponto no Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí, SP
Licenciado em Artes Visuais na UNICASTELO, em São Paulo.
Maravilhosa crítica ! Muito detalhista e completa a avaliação deste grande jornalista crítico de óperas ,Prof Marco Antônio Seta., Parabéns!
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