"IL TRITTICO" E AS TRÊS FACES DE PUCCINI EM ESPETÁCULO FRACO E DESEQUILIBRADO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Após vinte e nove anos "Il Trittico" retorna ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, estabelecendo-se como um local imperdível para os amantes da ópera. As três óperas em um ato que estrearam a 14 de dezembro de 1918 no Metropolitan de New York, subiram à cena na noite de 17 de julho de 2024 no Municipal carioca em espetáculo fraco e desequilibrado. Depois, 19, 21, 25 e 27 de julho.
As três obras são muito diferentes em caráter, cenário e tema, mas compartilham uma característica fundamental : a morte . Em "Il Tabarro" (O Manto), um marinheiro e sua mulher Giorgetta, perderam seu único filho e seu amor se acabou, através do descobrimento por Michelle de que Giorgetta tem um caso amoroso com Luigi, um estivador. Michelle então mata Luigi escondendo-o embaixo de seu capote.
Suor Angélica foi banida para um convento para espiar o seu pecado, após ter um filho ilegítimo. Lá, sete anos depois, ela é informada por sua tia princesa que seu filho não resistiu a uma enfermidade. Em desespero ela comete o suicídio, mas ao morrer é perdoada pela Virgem Maria em uma bela visão.
Em "Gianni Schicchi" morre Buoso Donati, um velho milionário. Sua gananciosa família tenta obter a herança com a ajuda do astuto fazendeiro Schicchi, que dita a pedidos o testamento, todavia legando os bens mais valiosos a si próprio.
Il Tabarro é a obra que nos remete ao Impressionismo registrado na obra de Debussy e Ravel, paralelamente já no início do século XX, em que se nota uma requintada orquestração de Giacomo Puccini, nada comum em suas óperas anteriores. O tenor Enrique Bravo recebeu os primeiros aplausos da noite destacando-se mais nos momentos dramáticos do que nos líricos e com esforço manteve o interesse do personagem Luigi até o seu terrível sufocamento por Michelle. Ao seu lado o soprano lírico spinto Eiko Senda encarnou a sua Giorgetta de maneira habilidosa, cheia de sensualidade e numa linha de canto de alto nível. Emitiu belos agudos e legatos preenchendo toda a tessitura do persoangem. Ainda nos protagonistas o barítono Marcelo Ferreira não passou do nível regular num personagem que é grande demais para ele.( dueto: "Perché non m'ami piú " e ária "Nulla! Silenzio") passaram neutros. Lara Cavalcanti (Frugola) serviu-se de seu canto para completar o quarteto principal, em intervenções satisfatórias.
Suor Angelica a ópera lírica do Trittico na voz do soprano lírico Ludmilla Bauerfeldt apesar de representar a contento o seu difícil e sofrido personagem, se adiantou ao assumir um papel que ainda não se adapta a sua timbrística. Compensando no mesmo papel a intensa interpretação cênica e musical, de Eiko Senda (19/7) arrebatou o público em sua ária "Senza mamma, o bimbo, tu sei morto", assim como a sequência final de seu suicídio transcorreram intimamente belas. O soprano ligeiro Carolina Morel (Soror Genoveva), Lara Cavalcanti (Zelatrice), Carla Rizzi (Mestra das Noviças) ambas mezzosopranos interferiram musicalmente em pequenos papéis.. As participações de Edneia de Oliveira (tia princesa) e do contralto Andressa Inácio (Abadessa) oscilaram musicalmente na afinação. As demais, assim como o coro feminino, adequadas. Preparação do Coro: Edvan Moraes: satisfatória.
Gianni Schicchi é um personagem histórico da Idade Média florentina, mencionada por Dante no Inferno da Divina Comédia e a sua época precisa é 1º de setembro de 1299, em Florença, quando se passa o enredo da ópera. Numa típica ópera de conjunto todos os seus intérpretes devem ser artistas de verdade. O brilho pessoal desaparece ante a necessidade de um conjunto homogêneo; apesar disso, cumprida tal exigência , vê-se o efeito gratíssimo de cada um dos papéis
.
Como não poderíamos deixar de destacar a atuação do barítono Marcelo Ferreira em Gianni Schicchi: é sumariamente insuficiente o seu trabalho vocal perante tão importante personagem título. Flavia Fernandes mais uma vez, como na Micaela de 2023, decepcionou em papel sempre aguardado pelo público: a Lauretta que canta a célebre "O mio Babbino, ó caro"...não convenceu.
Salvem-sse nesta a presença dos tenores Davide Tuscano e Guilherme Moreira como bons Rinuccio;; de Geilson Santos, tenor (Gherardo); Cabele Faria (Marco); Leonardo Thieze (Betto di Signa); Ciro D'Araujo (Mestre Spinelloccio); Fabio Belizallo (Messer Amantio di Nicolao); Patrick Oliveira (Pinellino) e Cícero Pires (Guccio). Os demais em interpretações primárias sob a concepção e direção cênica conturbada e circense do argentino Pablo Maritano. Quanto aos figurinos que foram transportados para uma época mais moderna compõem um carnaval de cores de mau gosto.
Cenários de autoria de Desirée Bastos paupérrimos e desprovidos de mínima criatividade tanto em Il Tabarro como em Suor Angelica não se justificam em hipótese alguma. Quanto aos figurinos, são bastante feios. A iluminação de Paulo Ornelas frisou a dramaticidade e o cômico característicos nas três óperas.
A melhor da noite foi a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, que sob a direção de Carlos Vieu manteve sua atuação com solvência, sem perder a graça que em uma partitura extraordinária exige, que além de bela e requintada é orquestrada em favor dos cantores líricos.
Obs: As fotos são de autoria de Filipe Aguiar. (Theatro Municipal do Rio de Janeiro).
Escrita por Marco Antônio Seta, em 20 de julho de 2024.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB - FCL
Diplomado em piano, teoria e solfejo, história da música, harmonia e contraponto pelo Conservatório Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí, SP
Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, em São Paulo.
Prezado o sr. fez ponderações acerca de cantores que sequer cantaram até o presente momento na temporada. O tenor Davide Tuscano por motivos de saúde foi substituído em todas as récitas até então por Guilherme Moreira e o papel do tabelião é apenas cantado por Ciro D'Araujo. Também está incorreto o nome do iluminador e é válido tomar nota da Lauretta do dia 19, que debutou graciosamente na Casa. Fora isso, considere positiva a sugestão de uma assessoria para correções ortográficas.
ResponderExcluirEssas modificações eu não fui informado, segui o que foi divulgado pelo próprio teatro, em suas publicidades. Os erros de digitação respondem pelos erros não de minha autoria.
ExcluirEntão como pode avaliar cantores numa critica se sequer os viu? Os nomes além de serem anunciados em cada espetáculo, como o caso do Rinuccio (substituido) ainda constam corretamente informados no programa disponível para todos. Perde-se a credibilidade da palavra.
ExcluirN.B : Salvem-se nesta, a presença dos tenores......( Rinuccio).
ResponderExcluirConcordo totalmente com sua crítica Marco Antônio Seta. Vc que é um exímio conhecedor do que faz, foi muito feliz em sua crítica.
ResponderExcluirParabéns uma vez mais por sua competência , sinceridade e isenção em seu trabalho crítico.
Isso não é uma crítica. É um atestado de ignorância. Não percebeu sequer que um mesmo tenor, Guilherme Moreira, cantou em todas as récitas de Gianni Schicchi, apesar do anúncio da substituição, dado em alto e bom som imediatamente antes do início da ópera. Assistiu 2 récitas e não citou os segundos Giorgetta, Luigi, Zia Principessa e Lauretta.
ResponderExcluirFoi excelente.
ExcluirPlinio Jovem Ribeiro disse: Este crítico não perde a mão, sempre fazendo análise criteriosa e detalhada, situando a obra historicamente e posicionando-se em relação à orquestra, coro, cenários, figurinos, iluminação e, acima de tudo, às participações individuais dos solistas. Ótimo !
ResponderExcluirPrimeiramente, uma pessoa que se propõe fazer uma crítica pública deveria, no mínimo, saber a língua portuguesa.
ResponderExcluirAlém de frases desconexas palavras inadequadas, não sabe onde está o sujeito na frase.
Além disso, mencionou iluminador que não iluminou e cantor que não cantou.
Uma vergonha ter coragem de publicar algo tão inconsistente e tão mal escrito.
Mas viva , de qualquer forma, a Internet livre!
Sempre me divirto por aqui observando tudo😁
ResponderExcluir