PARSONS DANCE : ENERGIZADA LINGUAGEM COREOGRÁFICA, SOB PROEZAS AERÓBICAS E EFEITOS LUMINARES. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DA ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Parsons Dance. Criação concepcional/coreográfica/David Parsons. Nascimento/ Parsons Dance. Agosto/2024. Fotos/ Divulgação Parsons. |
A sua trajetória artística, como bailarino e coreógrafo americano, dividia-se entre ser atleta e a pretensão de se tornar um modelo fotográfico. E, a partir de 1978, foi integrando a Paul Taylor Dance Company onde despontou logo como um de seus principais bailarinos. Estreando ali sua criação coreográfica, dois anos antes de criar sua própria cia a novaiorquina Parsons Dance, em 1984.
David Parsons se notabilizando por uma linguagem coreográfica singular, tendo como subliminares referências, os princípios estéticos de seu impulsionador artístico Paul Taylor, paralela a uma tendência daquela época de priorizar efeitos plástico-luminares em criação coreográfica multimídia, inicializada por Alvin Nikolais.
Surpreendendo o público e a crítica, desde suas primeiras apresentações no Brasil, a Parsons Dance está mais uma vez de volta, trazendo, nesta nova turnê um repertório de seis obras, entre inéditos e o retorno de dois de seus maiores sucessos aqui e nos circuitos mundiais.
Parsons Dance. Direção/Coreográfica/David Parsons. The Shape of Us/Parsons Dance. Agosto/2024. Fotos/Divulgação Parsons. |
Wolfgang abrindo não só numa espécie de tributo às composições de Mozart, mas como original introdução cênica ao processo de criação coreográfica de David Parsons. Três movimentos, não específicamente de uma mesma obra mozartiana, na sua caracterização indumentária e no seu gestualismo fazendo uma sutil referência ao neoclassicismo, conectada a uma livre releitura destes dois elementos estéticos, sob a pulsão de um olhar priorizado pela contemporaneidade.
Já o luminoso solo masculino Balance of Power, criado em 2020, avança numa proposta que remete em parte a outra peça solista - Caught, de 1982, sendo, até hoje, a mais emblemática marca da inventividade de Parsons na memória de todos os que a viram pela primeira vez no palco do Municipal carioca.
Nesta enigmática Balance of Power enquanto o performer aparece fixamente num ponto central do palco, movimentando vigorosamente partes isoladas de sua corporeidade, sua estrutura muscular rompante parece fazer parte da trilha autoral percussiva, normalmente apresentada ao vivo, por Giancarlo De Trizio.
Encerrando a primeira parte e datada de 2024, uma das recentes coreografias da Cia - The Shape of Us – para seus oito bailarinos e que funciona como uma homenagem às criações entre solos e formações grupais dimensionadas por Paul Taylor. Assumindo, também, um desafio performático na coesão de estilos gestuais de bailarinos-atletas e vice versa.
Numa similaridade de variações da fisicalidade que acompanhem um mesmo tema com a insistência de desenvolvê-lo, simultaneamente, num corpo jazzístico, sob acordes sonoros sequenciais ou alterativos como acontece em Juke, outra criação de 2024, esta inspirada numa clássica composição de Miles Davis. Sem que um gênero prevaleça sobre o outro, ao propor o convívio espontâneo das técnicas musicais com os movimentos coreográficos.
Chegando o espetáculo ao seu epílogo, através das icônicas e mais antigas obras do repertório da Parsons Dance - amplamente conhecidas e sempre lembradas - Caught e Nascimento, esta última demonstrativa da paixão de um compositor brasileiro pela obra do coreógrafo americano.
O sempre instigante solo Caught, 1982, ao se sustentar no conluio entre a brava exposição acrobática e o ilusionismo de um avançado e precursor design de iluminação estroboscópica.
Provocando psicodélica surpresa, na sua alternância inventiva de instantâneos cortes cinéticos de imagens congeladas ao vivo, no entremeio de luzes e escuridão, nas posturas solares e saltos espaciais do performer.
Enquanto Nascimento, de 1990, repercurte a mineiridade de um Milton numa pulsão criativa roseana em composição musical direcionada pelo seu mágico encantamento diante da Parsons Dance. Em carismático apelo à brasilidade numa atmosfera de alegórico alcance, dos seus contagiantes ritmos ao emotivo gestualismo, como reflexo especular do ideário de David Parsons : “Adoro quando faço uma multidão suspirar”...
Wagner Corrêa de Araújo
Parsons Dance apresentou-se em temporada brasileira pela DellArte, em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, a partir de 14 de agosto até o domingo 24, em horários diversos.
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