DE BACH A NIRVANA/FOCUS CIA DE DANÇA : REFINADO DIÁLOGO COREOGRÁFICO ENTRE A MÚSICA BARROCA E O GRUNGE ROCK. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Focus Cia de Dança / De Bach a Nirvana. Alex Neoral/Direção/Coreografia. Dezembro 2024. Dan Coelho/Fotos. |
De Bach a Nirvana com a Focus Cia de Dança, uma das mais conceituadas no panorama brasileiro contemporâneo, com reflexos além fronteiras, e sempre sob a direção concepcional/coreográfica de Alex Neoral, promove um atemporal diálogo entre a riqueza harmônica da música barroca de Johann Sebastian Bach e a fluidez energética do grunge rock de Kurt Cobain e sua banda Nirvana.
E é esta integração estética entre excepcionais concertistas e qualitativos bailarinos que faz deste encontro das habilidades técnicas de cada um destes artistas, um espetáculo tanto capaz de se enquadrar no projeto Sala em Movimento da própria Sala Cecilia Meirelles, como na sua possível conceitualização estilística de Recital Coreográfico.
No qual o espaço de um tradicional palco de concertos transmuta-se num dialetal encontro da música clássica, do rock e da dança contemporânea, incluída a plasticidade dos seus elementos arquitetônicos recentemente restaurados, desde o belo painel modernista frontal às intervenções participativas dos bailarinos, da caixa cênica à plateia. Inicializada com uma indumentária mais cotidiana, alternativa em sua segunda parte nas variações de peitorais masculinos desnudos e dos figurinos femininos de saias a malhas.
Ampliando o subliminar apelo sensorial através dos efeitos de luzes, ora vazadas ora focais, sublinhando com cores os detalhes em relevo branco do painel, no entremeio de expansiva sonoridade acústica nas composições executadas, da expressividade dos acordes bachianos à dinâmica rítmica dos sons grunge/roqueiros.
Focus Cia de Dança/ De Bach a Nirvana. Alex Neoral/ Direção/Coreografia. Dezembro/2024. Manu Tasca/Fotos. |
Onde há que se referenciar a participação no formato de um quinteto dos notáveis instrumentistas, a saber - Erika Ribeiro (piano), Samuel Passos (viola), Nikolay Spoundjiev (violino), Emília Ivova Valov e Daniel Silva (violoncelos), apresentando-se ora em solos a formações grupais, em posicionamentos cênicos diversificados.
Na interatividade com bailarinos da melhor capacitação tecno-artística, caso dos oito do staff da Focus Cia de Dança (Bianca Lopes, Carolina de Sá, Cosme Gregory, Letícia Tavares, Lindemberg Molli, Paloma Tauffer, Yasmin Almeida, Wesley Tavares), além dos convidados especiais (Luísa Vilar e Márcio Jahú).
Todos eles mostrando uma potencial versatilidade, sob uma atuação conjunta que nunca deixa de relevar aptidões técnicas paralelas à ressonância exterior de uma psicofisicalidade entremeada pela profundidade subjetiva de cada bailarino. Convicta e reveladora para exprimir a envolvência de momentos gestuais catárticos proporcionados pelas incursões, entremeadas com pausas de silêncio, nos Prelúdios, Fugas, Partitas, Contrapontos, Árias e Suítes de Bach.
Ou então, induzidos pela energia de passos mais agitados e desinibidos das composições roqueiras de Kurt Cobain para o Nirvana, numa entrega de sua corporeidade gestual freestyle ao balanço contagiante do quase frenesi de uma disco dance.
Aliás há que se lembrar da contribuição histórica do bailarino Tony (Anthony Hodgkinson) para a pulsão dançante do Nirvana o que fez da banda um tema inspirador para coreografias contemporâneos, como é o caso, aqui, da releitura inovadora de Alex Neoral para clássicos temas da banda.
Na sua obra De Bach a Nirvana sabendo como imprimir um descortinador elo entre duas épocas, da dança à música, do sugestionamento etéreo do barroco à alegria feérica do rock, em espetáculo retrospectivo com obras aplaudidas antes (Um a Um e Interpret) em circuito internacional (Lyon/França e Montreal/Canadá).
O que, nesta sua última apresentação, acaba por contribuir, não só para o incentivo a uma vinculação maior entre linguagens artísticas diversas, visando tanto o alcance do público habitual de performances coreográficos, como a conquista daqueles aficionados exclusivos da música em salas de concerto.
Fazendo, assim, com que se encerre a temporada carioca 2024 de dança contemporânea com um meta espetáculo, ao mesmo tempo, enunciador, reflexivo e provocante, na sua abertura de perspectivas para a arte coreográfica sob moldes brasileiros...
Wagner Corrêa de Araújo
De Bach a Nirvana/Focus Cia de Dança. Sala Cecília Meirelles. Numa breve temporada, entre quinta e sábado, de 12 a 14 de dezembro.
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