MELHORES E PIORES NOS PALCOS CARIOCAS DE 2024 PELO BLOG ÓPERA E BALLET POR WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO.

                  Russalka, TMRJ

1 - No que concerne à dança clássica, o Balé do Theatro Municipal /RJ apresentou sua melhor releitura através de La Fille Mal Gardée, na versão do coreógrafo uruguaio convidado Ricardo Alfonso, destacando-se pelo sotaque de envolvente teatralidade imprimida, desde a performance romantizada dos personagens a uma bem humorada pantomima.

2 - Enquanto o Balé do Theatro Municipal, no seu empenho ascendente pela retomada de outros momentos de seu repertório clássico na temporada - tais como O Lago dos Cisnes e O Quebra Nozes, mesmo assim, não conseguiu alcançar uma mais completa equivalência qualitativa nestes balés, exigível por sua especial posição de única cia clássica oficial do país.

3 - Quanto aos piores espetáculos coreográficos do ano são vários, impossível citar cada um deles, frutos de uma imatura e apressada elaboração de propostas em busca de pequenos patrocínios. E que, na maioria das vezes, sob raríssimas exceções, falham na sua seleção e se apoiam em equivocados critérios, resultando em espetáculos sempre muito amadores.

                       Entre a Pele e a Alma_Focus Cia de Dança_crédito Leo Aversa

4 - Na dança contemporânea as concepções avançadas de dois dos mais importantes nomes da coreografia brasileira contemporânea – Alex Neoral e Renato Vieira tiveram, outra vez, um caráter de autenticidade personalista. Respectivamente, no Entre a Pele e a Alma, pela Focus Cia de Dança, inspirada no tríptico de H. Bosch e no Gaveston & Eduardo, pela Renato Vieira Cia de Dança, este último em bem vindo retorno com obra inédita. Ambos ultrapassando as expectativas estético-coreográficas com ousados experimentos temático-sensoriais.

5 - O melhor espetáculo na temporada lírica do Theatro Municipal foi, sem dúvida alguma, Rusalka, de A. Dvorak, não só por ser sua primeira e inédita apresentação no mais tradicional palco de ópera do Rio de Janeiro. Mas, especialmente, pela originalidade na concepção cênico/direcional dada por André Heller-Lopes, fazendo uso da tradição sob um sotaque de contemporaneidade.

6 - A Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal teve uma intensa atuação na temporada 2024, mas ainda precisa atingir um maior perfeccionismo no tratamento de alguns de seus naipes como os sopros que, volta e meia, apresentam instabilidade principalmente nos balés e óperas. Sendo que, nestas ultimas, o alcance do volume sonoro da OSTM muitas vezes abafa a expressão e a extensão de determinados timbres vocais.

7 - A soprano Ludmilla Bauerfeldt tornou-se uma unanimidade, no sentido contrário ao apregoado por Nelson Rodrigues, tanto no aplauso do público como nos elogios críticos, em performances titulares que a qualificaram como uma autêntica e absoluta prima-donna, tanto em Suor Angelica como em Rusalka, na sua convicta entrega dramática e vocal a estes personagens .

8 - No naipe masculino não há como deixar de ressaltar as atuações seguras de dois destaques da nova geração, como as belas tessituras do barítono Vinicius Antique, este no Sargento Belcore do Elixir de Amor e do tenor Giovanni Tristacci, superlativo no exigente papel do Príncipe em Russalka.

9 - Destaques cenográficos na ópera ficam com a simplicidade funcional dos cenários e figurinos de Desirée Bastos para o Elixir de Amor e a potencialidade imersiva da concepção de Renato Theobaldo, um dos craques brasileiros neste oficio, para Russalka.

Wagner Corrêa de Araújo



Comentários

  1. Achei a Ludmilla Bauerfeldt meio fraca como Russalka. Não achei que o timbre combinou com a personagem

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  2. Assisti ao espetáculo de 'Rusalka' com a Ludmila Bauerfeldt e com a Paolla Soneghetti, e devo ressaltar que a Paolla se sobressaiu pela profundidade e emoção de sua interpretação. Contudo, foi evidente que, em determinados momentos, a orquestra parecia eclipsar os cantores, resultando em um desequilíbrio sonoro que prejudicou a obra. Apesar disso, a performance da Paolla foi indiscutivelmente mais impactante e envolvente para mim.

    Considerando o debut da Paolla Soneghetti e a complexidade intrínseca de 'Rusalka', é surpreendente que ela não tenha recebido algum tipo de reconhecimento ou menção. Sua apresentação, repleta de nuances e emoção, merece ser destacada dentro do contexto desta obra desafiadora.

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  3. Assisti ao espetáculo de 'Rusalka' com a Ludmila Bauerfeldt e com a Paolla Soneghetti, e devo ressaltar que a Paolla se sobressaiu pela profundidade e emoção de sua interpretação. Contudo, foi evidente que, em determinados momentos, a orquestra parecia eclipsar os cantores, resultando em um desequilíbrio sonoro que prejudicou a obra. Apesar disso, a performance da Paolla foi indiscutivelmente mais impactante e envolvente para mim.

    Considerando o debut da Paolla Soneghetti e a complexidade intrínseca de 'Rusalka', é surpreendente que ela não tenha recebido algum tipo de reconhecimento ou menção. Sua apresentação, repleta de nuances e emoção, merece ser destacada dentro do contexto desta obra desafiadora.

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  4. Não estou aqui para discordar ou concordar com a opinião do autor mas gostaria de dizer que nenhum blog ou crítica especializada lembrou de algo extremamente importante: é a primeira vez em muitos anos que o Theatro Municipal conseguiu entregará temporada que anunciou. Há mais de 20 anos que somos informados de forma picada sobre a temporada. Ora semestre a semestre, ora título a título.

    A Fundação Theatro Municipal sofre hoje com um déficit imenso no seus quadros de funcionários. Vale lembrar aqui que o concurso de 2013 contemplou apenas os corpos artísticos. Como sociedade civil precisamos cobrar a modernização e reposição dos quadros técnicos e artísticos da Fundação. Na orquestra a situação é periclitante. Há naipes sem concursados ou contratados. O salários dos corpos estava estão cerca de 115% de defasagem. Os contratados temporários pagam 3500/mês para cada músico SEM AUXÍLIO TRANSPORTE. Os contratos serão encerrados em 30 de junho de 25. O Estado está em regime de recuperação fiscal e há uma má vontade para a realização de concurso para a FTM, concomitante à criação de uma nova orquestra sinfônica para o corpo de bombeiros do estado do Rio.
    Como podemos sonhar com melhoras artísticas quando o poder público claramente não se esforça para melhorias estruturais?

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    1. Correto, essa é a situação real. Mas vale ressaltar ainda, a completa bagunça e CORRUPÇAO na administração do teatro, que sempre acaba em litígio, acusações, polícia... Centenas de pessoas ganhando salário pra não fazer nada, roubalheira generalizada, estado de abandono...
      As orquestras são de baixa qualidade, e tocam só de vez em quando... já os outros corpos artísticos são bons.
      Desisti do municipal(para musica orquestral) faz tempo, Osesp e Cultura são mil vezes melhores em tudo... infelizmente.

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  5. Marco Antônio Seta disse: Talvez você esteja confundindo as situações dos Teatros Municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo ! Pois citando a OSESP e a Cultura Artística, que são de São Paulo, não dá para comparar com a situação do TMRJ.
    Enfim, se estou enganado, desculpe-me; mas no fundo, a situação é muito parecida entre os dois teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo. Tudo aquilo que você apontou acima, está acontecendo em São Paulo também. Centenas de pessoas ganhando salários para não fazer nada. Comissões de julgamento e decisões, formadas por pessoas que não entendem de ópera, nem de repertório sinfônico e tampouco da sublime arte do ballet. O resultado é desesperador em termos de qualidade artística.
    Vejamos ontem, por exemplo, no concerto "Viva São Paulo" sábado às 17H00 de (25/01/2025) no aniversário da cidade de São Paulo.
    Ao entrarmos no Teatro Municipal foram distribuídos três saquinhos de papel embrulho, acunciando-se que haveria uma vivência musical no concerto.
    O maestro explicou que o público substituiria os tiros de canhões da Abertura 1812, de P. Tchaikovsky, penúltima peça do concerto programado. Tudo isso não convence a qualidade do concerto, o qual foi usado como veículo, para uma demagogia barata e popularesca.
    Nada disso é preciso para se conquistar um público. Basta uma execução primorosa. a qual não foi o caso desse evento. Outros compositores alinharam o programa, em leituras rasas, sem nenhum predicado.
    Como sempre, músicos sabem reclamar das condições de suas orquestras sinfônicas das próprias casas. mas apresentar um trabalho de qualidade superlativa, isto é uma outra história, e muitíssimo séria; sem nenhum subterfúgio de interferências do público ou de deslocar instrumentistas na plateia. O que se ouviu, naquele momento, foi um abuso de estouros desses sacos, antes, durante e depois, como se fossem, simples acidentes de controle de rítmos, talento que nem todos possuem, naturalmente. Sabendo-se outrossim, que o maestro tem plena consciência do tipo de público com o qual está lidando naquele momento, usa e abusa, extratifica as classes sociais, excede em seu discurso, fazendo-se de bonzinho, popular e eclético. Lamentável assistir a tudo isso pessoalmente. O público aplaudiu delirantemente a toda essa demagogia barata. Incrível !!!
    Coisas desse nível vem acontecendo consecutivamente em nosso Theatro Municipal de São Paulo, desde 2017, quando esse Sr. Roberto Minczuk assumiu como maestro titular da Orquestra Sinfônica Municipal. Lamentavelmente.

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