MAURICE RAVEL, POPULAR MAS MAL COMPREENDIDO! ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


Normam Lebrecht, famoso crítico britânico, já confessou em seu blog não gostar de Debussy. Então se um músico resolve gravar um compositor tão conhecido como Ravel, deveria ter algo interessante a dizer, ou como diria o maestro Carlo Maria Giulini, grande raveliano, só toco música que amo.

Iniciamos com o popularíssimo concerto em sol maior para piano. Existem as interpretações de Michelangeli, Alicia de Larrocha e Samson François. Esses realmente entendem que para Ravel, citando a frase do compositor espanhol Roberto Gerhard, o sentido da música é o som. A pianista espanhola chegou a dizer que mesmo quando interpretava um concerto de Mozart, ela pensava a parte do piano orquestralmente, estudava as partituras de piano imaginando diferentes instrumentos musicais.

Ravel é amplamente considerado um dos maiores orquestradores da história, talvez alguns se igualam a ele, mas diria que nenhum o supera. Infelizmente mesmo entre os músicos, a maioria parece ser meio surda para as combinações infinitas e diversidade extrema de timbres possibilitada por uma grande orquestra. Muitos compositores conseguiram dominar a forma, deixaram sonatas bem sucedidas. Um grande número conseguiu compor música de câmara significativa, mas escrever para orquestra como Ravel fazia, é coisa alcançada por bem poucos, ao longo de toda a história da música.


Muito do mundo sonoro riquíssimo de Ravel está relacionado com a tradição orquestral francesa. A mais antiga orquestra estável moderna do mundo foi a do Conservatório de Paris. Contemporâneo dela, o primeiro compositor a realmente escrever diretamente para a orquestra foi Hector Berlioz. Em meados de 1900, Mahler ainda concebia suas sinfonias ao piano.

Acontece que a maior e mais sólida tradição orquestral do mundo é austro germânica. Muita gente por causa disso acaba se aproximando de Ravel através dessa vertente, caracterizada por imponência, alto volume e som orquestral homogêneo. Todo o oposto da sonoridade francesa; as antigas madeiras francesas tinham sons anasalados, as trompas sem tanta potência se fundiam quase todo tempo com as madeiras, os fortíssimos reais dependiam da percussão e o que a maior parte do conjunto perdia em volume, compensava em riqueza de timbres. Daniel Barenboim e Lorin Maazel quando dirigiram importantes orquestras francesas, lutaram ao máximo contra essa tradição, substituindo antigos modelos de instrumentos e fazendo suas orquestras parisienses tocarem Mahler e Bruckner, não se importando se esses conjuntos perderiam seu som característico ao interpretarem Ravel.

Quando resenhei aqui gravações de La Mer de Debussy, remarquei o quanto são sensaboronas interpretações de grandes maestros internacionais dessa peça como Rattle, Gergiev, Solti, Maazel, Barenboim, Haitink e destaquei como são reveladoras as interpretações de maestros franceses como Munch, Martinon e Monteux ou dos suíços Ansermet e sua orquestra da Suisse Romande. O mesmo vale para a música de Ravel. Felizmente alguns conseguem superar as barreiras, por exemplo comparem a excelente versão da "Sinfonia Coreográfica" Daphnis et Chloe por Seiji Ozawa com sua orquestra de Boston, considerada a melhor orquestra francesa fora da França, com a versão anódina de Haitink, com a mesma orquestra. As orquestras londrinas também parecem se adaptar, quando estimuladas, muito bem ao mundo sonoro de Ravel, recomendo as gravações de maestros como Giulini, Previn, Burgos, Abbado e Nagano com a London Symphony e a Philharmonia. Pierre Boulez por sua vez logra moldar a super homogênea Filarmônica de Berlim ao mundo raveliano com muito sucesso. Indo mais longe, a Filarmônica Tcheca deixou ótimas gravações de música francesa dirigida por Serge Baudo. Mais longe ainda, Eduardo Mata conseguiu que sua orquestra texana de Dallas se tornasse reconhecida internacionalmente em grande parte por conta de interpretações ravelianas, sob sua direção.
Isaac Carneiro Victal

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