MÚSICAS QUE FIZ EM SEU NOME : LAILA GARIN EM MAIS UM ACERTADO LANCE DE DADOS CÊNICOS / MUSICAIS. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

Músicas Que Fiz Em Seu Nome. Laila Garin / Tauã Delmiro / Dramaturgia. Gustavo Barchilon / Direção. Laila Garin / Performance. Março/2025. Van Brígido Fotografia.


“Na tentativa de não sofrer, terminamos optando por não sentir. Plastificamos nossa pele. Embalsamamos nossos afetos”. É a partir de uma das inspiradas reflexões poéticas e filosóficas de Viviane Mosé que Laila Garin, em dúplice imaginário com Tauã Delmiro, estruturou a narrativa dramatúrgica de seu diferencial monólogo cênico musical Músicas Que Fiz em Seu Nome.

Dando, assim, partida a um envolvente jogo teatral conduzido com a habitual artesania de um dos experts da nova geração do musical brasileiro – Gustavo Barchilon. Onde a força qualitativa de tão acertadas parcerias acaba imprimindo à proposta perspectivas de uma maior trajetória, muito além desta sua instantânea temporada inicial.

Tendo ao seu lado uma equipe tecno/artística que confere a maior visibilidade artística a um despretensioso espetáculo que, apesar de ser dimensionado como um show cênico por seus idealizadores, pode ser classificado muito mais próximo de um teatro musical, mesmo sob sua formatação de monólogo.

Afinal, contar com a performance de uma protagonista solo como Laila Garin tão irradiante, seja por por seu presencial cênico seja por sua singularidade vocal, é fator incontestável para que esta atriz/cantora venha, como sempre sob um sotaque carismático, alcançando uma sólida trajetória Brasil afora, especialmente depois que se tornou emblemática sua personificação de Elis Regina nos palcos.

Músicas Que Fiz Em Seu Nome. Laila Garin / Tauã Delmiro / Dramaturgia. Gustavo Barchilon / Direção. Laila Garin / Performance. Março/2025. Van Brígido Fotografia.


A trama dramatúrgica (Laila Garin e Tauã Delmiro) conecta comédia e melodrama, partindo de curioso relato sobre procedimentos estéticos com “plastificações” faciais (das correções dematológicas a cuidados capilares), de sua personagem titular - uma noiva (Laila Garin) - às vésperas de seu casório, para se transformar, custe o que custar, numa nova Leide Milene. 

Isto tudo muito bem sugestionado por intermédio da vistosa indumentária (Fabio Namatame) própria a uma cerimônia nupcial, na tipicidade dos seus emblemas - da branqitude rendada do vestido longo extensiva ao véu, mais o indispensável buquê de rosas vermelhas.

Surgindo, de repente, como uma noiva radiante e portentosa em sua alta postura frontal, ampliada em seu figurino com sutil referencial de uma "babushka" russa gigante, preenchendo com bela plasticidade o espaço cenográfico (Natália Lana) sob funcionais variações luminares  (Maneco Quinderé) .

Onde a trilha sonora, com cerca de duas dezenas de canções, entremeando gêneros populares diversos, vai do repertório romântico assumidamente, por vezes, de tons brega / sentimentais, a alguns clássicos da MPB e até incluindo uma versão em português de Ne Me Quitte Pas. No primoroso tratamento musical de Tony Lucchesi (piano e regência) e seu naipe afinado de instrumentistas (Léo Bandeira na bateria, Thais Ferreira no cello, Jhony Maia, na guitarra e violão).

Para fazer esquecer as sofrências afetivas e as desilusões existenciais enfocadas, aqui, com uma humorística ironia entre o riso e as lamentações, há uma correspondência plena de instintiva espontaneidade, das marcações direcionais (Gustavo Barchilon) às expressões faciais e o gestualismo corporal de Laila Garin.

A atriz/cantora descortinando todos os contornos de sua personagem em irrepreensível e cativante representação vocal e textual, sob um coesivo nível qualitativo performático para este seu primeiro experimento autoral, sabendo como absorver plenamente a atenção do espectador.

Enquanto Gustavo Barchilon mostra, outra vez,  seu pleno domínio da gramática cênica do teatro musical, partindo agora de uma trama simples mas, que ele torna com sua reconhecida maturidade no gênero, de explícito alcance sensorial palco/plateia, com promissoras perspectivas na temporada 2025 ...


                                              Wagner Corrêa de Araújo


Músicas Que Fiz em Seu Nome está em cartaz no Teatro do Copacabana Palace, em curta temporada,  dias 11, 12, 19, 21, 25 e 27 de março; até os dias 01 e 02 de abril, sempre às 19hs.

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