SE FAZENDO DE EGÍPCIA PARA O QUE ACONTECE NO TEATRO MUNICIPAL DE SP, TOMEI ESSA POSIÇÃO TAMBÉM EM RELAÇÃO À OSESP. ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


Sobre "encenações modernas", no mundo inteiro tem isso. 30 anos atrás Ileana Cotrubas dava uma entrevista ao jornal Folha de SP reclamando de "pornografia" nas postas em cena na Europa. Aqui no Brasil pelo menos não colocam nas óperas pornografia e escatologia, exceto a manifestação do diretor Gerald Thomas mostrando o traseiro no palco do Municipal do Rio para o público que vaiava sua direção de "Tristão e Isolda".
Já vi cada coisa que fazem essas encenações do Municipal de SP parecerem bem comportadas. Assisti a uma montagem de Salomé na Ópera Real de Londres em que o carrasco de São João Batista aparecia por um bom tempo completamente nu. Na hora do assassinato da protagonista ele a agarrava por trás, sacodia e ela caia no chão e morria!
Outra encenação da Tosca no Teatro Real de Madrid que foi disponibilizada na internet na época da pandemia que eu vi tinha uma mulher completamente nua também perambulando pelo palco, durante a ópera inteira! Não consegui entender o que aquilo significava.
Teve outro caso A Danação de Fausto de Berlioz na Opera Bastille de Paris, vaiaram a encenação. Tinha um balé com um monte de jovens moças e rapazes seminus executando movimentos durante a marcha húngara, como se todos estivesses tendo ataques epilépticos ao mesmo tempo! Talvez uma referência às epidemias de "Dança de São Vito", que ocorriam na Idade Média? Não sei dizer. Quando não era isso, projeções de cenas como erupções vulcânicas ou a visão de um formigueiro!
Cada um pode interpretar uma obra da forma que quiser. As artes performáticas permitem isso, pode-se fazer o que quiser com elas, mas estas continuam existindo na sua integridade. Uma performance ruim não destrói uma obra de arte. Diferentemente da destruição física de uma obra de arte, aí sim é um ato de vandalismo.
Prefiro ouvir óperas do que ver. Richard Wagner em Bayreuth uma vez tirou um binóculo da mão de sua amiga Malwida von Meysenbug, pedindo para ela se concentrar na música. Maria Callas disse que todas suas interpretações operísticas se baseavam sempre na música e no trabalho dos compositores, nunca nos libretistas...
Diretores tradicionais também modificam obras clássicas, o filme Otello de Zeffirelli corta a partitura e transpõe a afinação. Cortes e adaptações sempre foram prática comum, ex. Carmen de Bizet foi apresentada mais ou menos por 100 anos em uma versão com recitativos medíocres adicionados. No caso de Don Carlo de Verdi existe uma única gravação completa da ópera com o balé, a versão francesa de Abbado. Elektra de Strauss também recebeu só uma gravação comercial completa, a de Sawallisch, nesse caso sou a favor dos cortes.
A OSESP desde a saída de John Neschling nunca mais recebeu prêmios internacionais como Grammy Latino ou Diapason D'or. Segundo a revista Concerto recentemente levantaram os painéis do teto da Sala SP. O resultado é uma acústica cavernosa. Mas como os problemas da OSESP não podem se encaixar em questões de costumes, não geram comoção.
A direita deveria era ter se preocupado em reconstruir o Museu Nacional que pegou fogo para a comemoração do jubileu da independência ocorrido enquanto estavam no poder. Batalhas culturais da direita são batalhas perdidas pois é impossível controlar as mudanças de costumes numa sociedade, como dizia o filósofo pré-socrático Heráclito, é impossível entrar duas vezes no mesmo rio. Para desespero dos conservadores, tudo se desfaz! Usei como provocação no título desse artigo uma expressão do dialeto pajubá de gays e travestis, proibido por Bolsonaro no ENEM e agora Lula também proibiu linguagem neutra na administração federal. "Fazer a egípcia" significa ignorar uma coisa, fazendo referência à representação das figuras humanas estilizadas na pintura egípcia antiga, vistas sempre de perfil.
Isaac Carneiro Victal.

Comentários

  1. encenaçoes modernas são interessantes, quando BEM feitas. com gente que sabe o que está fazendo, com critério e qualidade(o contrário do que acontece no municipal). porque a arte não é uma coisa morta, intocável. arte não é um como um museu antigo, é uma coisa viva e em transformação - isso os ultra-conservadores nunca vão entender(porque não querem).
    a musica de Stravinsky foi considerada ruído pelos conservadores quando surgiu...
    em outra épocas, já vi nesse mesmo municipal, óperas modernas muito interessantes e com belas montagens. assim como óperas tradicionais muito bem feitas também. outros tempos... hoje a mediocridade e a corrupção generalizada tomaram conta do teatro.
    fica o recado.

    ResponderExcluir
  2. Emcenações modernas podem ser realizadas,cdesde quecresoeitem o drama e a música, guardando com esses a devida harmonia. Ópera não é teatro nem musical. Diretores de teatro que nada entendem de música e/ou ópera não deviam cometer os desatinos que volta e meia vemos no Brasil e no exterior. Por exemplo, a quase ridícula encenação recente do Macbeth, de Verdi no TMSP. A diretora quase consegue anular a boa execução musical, do coro e solistas. Um absurdo, gente sem a mínima noção do que seja ópera e música, ter a cara de pau de colocar seu nome numa bobagem como aquela

    ResponderExcluir
  3. Quanto comentários sem destino......vc quer defender as barbaridades do Teatro Municipal de São Paulo?
    Então faça uma assinatura de uma temporada de 2026 que não vai acontecer por conta da saída da Sustenidos, que sairá tarde demais do Theatro Municipal de São Paulo



    ..

    ResponderExcluir
  4. não faz diferença alguma a saída da sustenidos, porque vão colocar outra tranqueira no lugar, como é de praxe. todas essas organizaçoes (pra mim mafiosas) saíram em meio à brigas e inquérito policial. nenhuma novidade no bostil(é um país).

    ResponderExcluir

Postar um comentário