MARTHA ARGERICH DEVERIA SEGUIR O EXEMPLO DE IDIL BIRET! ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


Recentemente publiquei um artigo e ele acabou se tornando a minha publicação que mais recebeu comentários nesse blog. Muitos apareceram me criticando, mas eu não me importo, aqui todos podem se expressar, inclusive discordado e até atacando a gente!

Deixei bem claro, embora considere que tanto Martha Argerich, quanto Claudio Arrau ou Alicia de Larrocha toquem todos num nível que os coloca entre os maiores pianistas, o repertório dos dois primeiros não vai muito além dos cavalos de batalha, enquanto última se destacou por divulgar como ninguém repertório não tão conhecido de excelente qualidade do seu próprio país, tendo inspirado inclusive compositores a escreverem obras com dedicatória para Alicia de Larrocha.

Além de Mozart, Beethoven e Chopin, Alicia interpretou em concertos mais de 80 vezes o ciclo Iberia de Albéniz, aquele mesmo que Messiaen chamou de maior obra já escrita para piano. Isso não é um fato para se ignorar.

Um colega, Osvaldo Colarusso, apareceu defendendo as escolhas de dona Martha, mas ele mesmo já escreveu um artigo elogiando o enorme repertório da pianista turca Idil Biret, que vai de Bach até Boulez, incluindo uma coleção de 4 CDS SÓ DE MÚSICA TURCA! O compositor nacional da Turquia, Ahmed Adnan Saygun, aparece dirigindo Idil Biret como solista nessa caixinha de discos, a obra é primeiro concerto para piano desse autor. Peça muito interessante por sinal, juntamente com o segundo concerto, dedicado à Gulsin Onay, pianista que gravou ambos concertos de Saygun.

A referida pianista turca de fato não toca no mesmo nível da estrela argentina, mas temos que reconhecer o esforço dispendido para dominar um enorme repertório e ainda com resultados tão consistentes, como acontece no caso de Idil Biret!

Recordaram nos comentários o fato de Maria João Pires e Mitsuko Uchida também não interpretarem música dos seus respectivos países, o que é verdade. A portuguesa aliás só interpreta basicamente música do período romântico e clássico. Para mim quem saem perdendo são as duas. O interesse por solistas que interpretam, mesmo que divinamente, um número restrito de obras, de um estilo determinado e de uma época específica, não pode ser comparado com a atenção despertada por quem se destaca num vasto repertório, não tem como negar isso.

Graças ao trabalho do crítico David Hurwitz, recentemente tomei conhecimento das sinfonias e concertos de Saygun e do compositor de Portugal Joly Braga Santos. Para esse crítico os ciclos sinfônicos desses dois compositores estão entre os melhores escritos no século XX.

Mas para entendidos que comentaram no anonimato aqui no blog, para defender Martha Argerich e Claudio Arrau, disseram que não existe nem em quantidade nem em qualidade um repertório de música clássica nos países da América Latina, por isso esses dois solistas não tinham como interpretar música dos próprios países. Tive que dar exemplos e mais exemplos e recebi reações parecidas com as dos defensores da teoria da Terra Plana. Ou seja, nunca vi a Terra redonda, então para mim ela é plana, ou nunca ouvi, ou não gosto, ou não consigo compreender a música de Ginastera, Revueltas, Chávez ou Villa Lobos, então nego a existência deles, ou digo que escreveram música de qualidade inferior...

O fato da música clássica ter surgido na Europa não quer dizer nada, japoneses, chineses e coreanos estão atualmente integrando as orquestras do mundo inteiro e as melhores orquestras deles quase não tem ocidentais e são excelentes. Da mesma forma, o fato de um compositor ter nascido na América Latina não diz nada sobre a qualidade da música dele, pensar o contrário disso é preconceito puro e simples!

Aliás essa conversa fiada é tão absurda, esse negacionismo de que exista no campo da música de concerto, um repertório de qualidade nos países da América Latina, tal afirmação é facilmente refutável com uma pesquisa mínima. Como diz um ditado espanhol, A IGNORÂNCIA É MUITO ATREVIDA!

Isaac Carneiro Victal

Nota do Editor: O artigo "Perguntar não ofende, por que Martha Argerich e Claudio Arrau quase não interpretam música dos seus próprio países? do crítico Isaac Carneiro Victal publicado nesse Blog teve excelentes números de acessos. Foram mais de mil durante o dia em que foi publicado, esse números se mantiveram nos dias seguintes.


Comentários

  1. Priscila Malanski Felix no face
    Martha é Martha. Faz o que quiser, como quiser, toca o que bem entender e fim de papo. Ela não deve nada , pra ninguém. Simples assim.

    ResponderExcluir
  2. Maria Livia São Marcos
    Simples resposta, o público não os quer ouvir no repertório " contemporâneo!!! Cada vez que Martha toca, um mês antes já não há mais entradas, o público quer ouvir o repertório imenso do piano, eu inclusive.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mas Martha não toca nem os 5 concertos para piano e orquestra de Beethoven, se limitando ao primeiro e ao segundo e eventualmente apresenta o terceiro. Tem uma anedota de que ela gosta mais do concerto para a mão esquerda de Ravel do que o em sol maior que ela toca repetidas vezes em público. Ela se recusa a tocar o concerto para a mão esquerda por se sentir muito exposta. Isso consta na biografia dela " A Criança e os Sortilégios". Isaac Carneiro Victal.

      Excluir
  3. Isaac, a Martha é uma diva. Entendeu agora? Ela faz o que quiser... haha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O que algumas pessoas precisam entender, se é que leram os textos onde se explicou isso muito bem, é que não precisamos de "divas", precisamos de músicos. Exatamente por causa do culto aos divos e divas, existiram casos como o da diva barroca Faustina Bordoni. Mulher do compositor Johann Adolph Hasse, ela era amiga de um tal Johann Sebastian Bach, a despeito disso, nunca cantou uma peça de Bach! Ela e o marido eram infinitamente mais famosos e bem sucedidos no tempo deles que Bach. Podemos fazer, guardadas as devidas proporções, um paralelo entre Faustina e Martha e Bach e Ginastera. Não que Ginastera seja um compositor da altura de Bach, não é isso que quero dizer, mas o compositor argentino será lembrado por sua obra 100 anos depois de morto e 100 anos depois que Martha Argerich morrer, poucos saberão quem ela foi. Esse tem sido o destino de quase todos o virtuoses. O nome dela apenas será lembrado pelos aficionados e constará nas enciclopédias. Ela será menos do que Sarasate é hoje. A única forma de remediar isso era ela por exemplo ter recebido uma dedicatória de uma obra importante de Ginastera, mas ela não está nem aí para isso. Entendam, a música sempre é mais importante que os intérpretes, são os compositores e suas criações que movimentam a cena musical. O intérprete se quiser se destacar, não basta tocar da melhor forma possível, tem que se ligar de alguma forma ao criador musical. Quase todos os grandes intérpretes do passado são mais lembrados hoje, ao invés de por suas gravações, por terem estreado obras, ou por terem grandes compositores escrevendo para eles ou por terem sido os primeiros a se destacarem na interpretação de determinadas obras. Toda essa histeria em torno de Martha Argerich não vai mudar essa realidade! Isaac Carneiro Victal

      Excluir
  4. Martha é diva e grande musicista, uma coisa não anula a outra nesse caso. Agora ela virou uma pianista fraca?? sua campanha contra ela é rídícula.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quando, nos dois textos recentes que publiquei sobre ela, falei que Martha Argerich é uma pianista fraca? Não coloquem palavras na boca dos outros. O meu ponto aqui foi não sobre como ela toca, mas o que. Também critiquei o culto aos virtuoses em detrimento da música, pois todo esse entusiasmo, pelo que estamos vendo, deixa mesmo as pessoas fanáticas! Isaac Carneiro Victal

      Excluir
  5. Alguém acorda, provavelmente sem ter muito o que fazer, brota-lhe uma ideia: fazer críticas à Martha Argerich. Bem, não sei se é cômico, detestável, estado de ignorância, ou as três coisas juntas. Critico já leva o nome do que significa, no seu estado mais bruto e único. Argerich é passível de crítica? Sim! Como qualquer um, por isso ser crítico é simples, vc vai utilizar um direito universal, pra minimizar qualquer coisa, ou gente, que vir pela frente. Quem crítica Martha, normalmente, atesta sua grande ignorância. Uma pessoa, não tendo nenhuma noção de sua trajetória, seu repertório, sua atuação, já não teria argumentos para cobrar, ou apontar qualquer coisa. Foi assim durante todos os 80 anos de sua "carreira", palavra que ela mesma não gosta, pois minimiza algo muito maior. Por isso Martha, até hoje, é Martha, isso a faz diferente de inúmeros, tão grandes quanto ela. Quando se diz em divulgar música do próprio país, Martha fez pela Argentina mais que isso. Martha perdeu muito dinheiro para seu país, investindo em bolsas e criação de orquestras, coisas que nem jogadores de futebol aclamados e milionários fazem por nós, aqui no Brasil. Sem contar quantos compatriotas Martha estende as mãos, mais uma vez reconhecendo os talentos de sua terra e facilitando seus caminhos. Nenhum pianista fez isso por nenhum brasileiro, de maneira tão quantitativa, nem qualitativa, como Martha faz. Sobre o que ela toca: pois é, né! Lamentável que não temos mais um Shonberg, crítico de antigamente, que teria um mínimo de discernimento para publicar uma opinião tão medíocre. Logo percebi que não houve uma consideração a respeito de seu repertório cameristico, incluindo obras inéditas, aprendidas após seus 70 anos. Por exemplo, Martha toca os dois trios de Mendelssohn, qualquer pianista mediano saberia que esses trios são mais trabalhosos que seus concertos para piano, além de exigirem uma abordagem mais sofisticada, mas isso é para quem tem ouvidos. Gravar integrais? Martha, sendo ela mesma, tendo dito não a Deutsche Gramophonne, quando de seu primeiro convite a gravar, não é muito simpatizante sobre gravar em quantidades, apesar dela mesma já ter feito. Por exemplo, aos desconhecedores, Beethoven, ela gravou suas integrais de sonatas para cello e tbm para violino, mais trios e quartetos, assim como Brahms. Aos desavisados, muitos dos quartetos e trios de brahms e Beethoven, equivalem as dificuldades encontradas em seus concertos pra piano, às vezes, pior! Sobre sua lista de concertos apresentados ao vivo, nos últimos 10 anos, vamos lá: Beethoven sinfonia coral, tríplice, 1 e 2, Chopin 1, liszt 1, Schumann, tchaikovsky 1, Prokofiev 3, Shostakovich 1, Bartok 3, bem, pra uma senhora que está chegando aos seus 84 anos, acho que está mais que bom, né, além do quê, seus recitais incluem repertório de câmara e solo, inclusive, solos inéditos, como no caso das estações de tchaikovsky, ao vivo. Quantos piazzolla Martha gravou? Arranjos dificílimos, com uma qualidade ímpar, ao lado de grandes tangueiros e arranjadores. Eu realmente me pergunto: por que???? agora, vc resolve, bundando em sua mediocridade, criticar Martha Argerich, é pq o que você anda pretendendo como ofício, está muito além da sua capacidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vou responder ao comentário cheio de xingamentos do anônimo em respeito ao público. Peço também encarecidamente para não abaixarem o nível com tantas ofensas pessoais, isso não vai me afetar nem vai me fazer desviar do ponto principal, esse estratagema dos ataques ad hominem não funciona comigo. Nunca falei que o repertório de Martha Argerich é pequeno ou composto por muitas peças fáceis, evitando as difíceis. Inclusive várias vezes usei a palavra virtuose para me referir a ela. Parem de usar espantalhos por favor! VOU CONTINUAR QUESTIONANDO, SE NELSON FREIRE PODE SE APRESENTAR COM UMA ORQUESTRA BRASILEIRA NA EUROPA TOCANDO O MOMOPRECOCE DE VILLA LOBOS, QUAL A RAZÃO DE MARTHA ARGERICH NUNCA TER TOCADO OS CONCERTOS DE GINASTERA? Até um grupo de rock como Emerson, Lake e Palmer tocou um arranjo de um desses concertos, mas dona Martha nem chega perto de Ginastera... Esse comentarista anônimo passou longe dos pontos discutidos. O fanatismo deixa as pessoas cegas! Isaac Carneiro Victal

      Excluir
  6. Há gravações de Guastavino, Piazzolla, Ginastera e ainda temos um concerto dela junto a lendária Mercedes Sosa, não entendi a reflexão do colega! Além de tantos concertos com colegas argentinos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Desde a primeira frase do primeiro artigo sobre esse tema, eu tinha dito que não estava falando de gravações de uma peça ou outra, mas de obras em grande escala como os concertos para piano de Ginastera. Sobre apresentações com músicos argentinos, não toquei nesse assunto. Isaac Carneiro Victal.

      Excluir
    2. Esses concertos não são interessantes a ponto de alguém se sentir compelido a tocar e gravar, minha modesta opinião. Alguém me contou uma passagem de Ginastera na plateia e Martha tocando as 3 danças argentinas, peça do compositor. Dizem que ele não gostou. Se não gostou, bem faz ela de não gravar seus concertos! Rs Ginastera não é um compositor do porte de Villa Lobos, não para o mundo, nem para seu próprio país. Deixa pro João Carlos Martins rs

      Excluir
    3. Esses argumentos já foram refutados ao longo dessa discussão, nos dois textos sobre o assunto. Até mesmo um dos que apareceu para defender Martha em detrimento de Ginastera, o maestro Colarusso, ele mesmo já escreveu um texto demonstrando como Ginastera se tornou o compositor latino americano mais tocado internacionalmente. Mas para o anônimo mal informado, que encerra seu comentário com risadinha rs, Ginastera só é conhecido, talvez nem isso, na Argentina. Afirmação feita sem base nenhuma, obviamente! Como uma pessoa afirma que Ginastera não é um compositor do porte de Villa Lobos nem para os próprios argentinos, como sustentar tais disparates? Vejam como atacam a música para defender o culto fanático ao virtuose, bem como eu estou denunciando... Isaac Carneiro Victal

      Excluir
  7. Artigo totalmente sem propósito. Quem escreveu deveria ter se feito a pergunta, em silêncio e, em seguida, responder a si mesmo, em silêncio. A resposta é óbvia, o compositor é um tanto desinteressante e pronto kkkkkkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A reação aos dois artigos demonstra o contrário, apesar da negação... No primeiro texto eu tinha falado de Martha Argerich e Claudio Arrau. Mesmo os dois sendo solistas do mesmo nível e igualmente famosos, apareceram muito mais pessoas defendendo a primeira que o segundo. Claudio Arrau morreu em 1991, Martha Argerich não só está viva mas continua muito ativa. Os outros lados da discussão, o nome mais mencionado depois de Martha, Alberto Ginastera, morreu em 1983. Outro nome recorrente Villa Lobos saiu de cena em 1959. Carlos Chávez morto em 1978 e Silvestre Revueltas morto em 1940, foram mais mencionados nos comentários ao primeiro texto que Claudio Arrau. Isaac Carneiro Victal

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas