THIAGO ARANCAM – BELA PRIMAVERA : POP/ÓPERA EM SHOW CENOGRÁFICO. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
FOTOS DIVULGAÇÃO/ZARELLA NETO |
Desde o inaugural concerto, em 1990, dos três tenores (Carreras, Domingo, Pavarotti) reunindo em performances solistas e grupais, de características nitidamente midiáticas, árias de ópera e hits do musical e do pop/rock, esta fórmula vem quebrando as fronteiras entre o clássico e a música fora deste contexto.
O que, se de um lado impulsiona comercialmente a carreira de cantores de substrato lírico, por outro enfrenta os riscos do apelo fácil e do descartável. Provocando inclusive, em alguns casos, o afastamento dos palcos operísticos, agravado em países como o nosso onde o gênero sobrevive a duras penas.
Impulsionado por seu revelador talento vocal, o paulista Thiago Arancam vem desenvolvendo uma ascendente carreira como tenor spinto, trafegando entre o lírico e o dramático. Favorecido por apurados estudos na Academia do Alla Scala (Milão) e por elogiadas performances (inclusive sob a regência de Placido Domingo).
Num repertório com prevalência do verismo italiano entre Puccini e Mascagni ao romantismo tardio de Alfano, inclusive com uma raramente apresentada obra deste último – Cyrano de Bergerac, onde Arancam atendeu a outro chamado de Placido Domingo. Mas com incursões também em Bizet, onde protagonizou Carmen em apresentações no exterior, embora tenha enfrentado vaias do público e a ira da crítica argentina quando foi o Don Jose no Colón.
Num repertório com prevalência do verismo italiano entre Puccini e Mascagni ao romantismo tardio de Alfano, inclusive com uma raramente apresentada obra deste último – Cyrano de Bergerac, onde Arancam atendeu a outro chamado de Placido Domingo. Mas com incursões também em Bizet, onde protagonizou Carmen em apresentações no exterior, embora tenha enfrentado vaias do público e a ira da crítica argentina quando foi o Don Jose no Colón.
Em nossos palcos estreou em 2011, no Municipal carioca, com uma conceituada Tosca e em Carmen e Fosca (Carlos Gomes), em 2014 e 2016, respectivamente no Municipal paulista. Além de seus inúmeros concertos/shows que, nos últimos anos, passaram a incluir programas diversificados. Do canto lírico extensivo, na sua estética interpretativa, ao cancioneiro popular internacional de caráter antológico/comercial.
Nas constantes idas e vindas, entre a Europa e o Brasil, vem lançando bem sucedidas gravações nesta linhagem mais vendável. E, agora, avança em sua carreira com um primeiro musical – O Fantasma da Ópera. Produção paulista que protagoniza por indicação seletiva autoral (Andrew Lloyd Webber), num dos maiores êxitos da atual temporada.
Na sua mais recente tour nacional, titulada Bela Primavera, mantém sua opção vocal em torno do pop/lírico, com alguns clássicos do rock, canções italianas e brasileiras. Ora com Who Wants to Live Forever, ora com How Can I Go On, onde faz um tributo remissivo ao celebrado dueto Fred Mercury/Montsserat Caballé, pela recente morte da soprano espanhola. Ou, ainda com a dúplice atuação dele e da soprano (Carmen Monarcha), incluindo o tema titular e o celebrado All I Ask of You de O Fantasma da Opera.
Mas, para quem já assistiu à sua recente montagem e que Arancam integra como tenor/ator, há um arroubo incisivo e contínuo da sua parte e menor convencimento, com um excessivo vibrato, da cantora convidada para sua versão no show Bela Primavera. Havendo distanciamento crítico na atuação, se comparada for à do elenco protagonista feminino no musical paulista, e mais acerto dela nos duetos do Queen.
De perceptível envolvência qualitativa são, aqui, as atuações de Thiago Arancam, embora sujeitas às naturais oscilações de súbitas passagem de fraseados graves para as extensões mais agudas do registro lírico, ao atribuir suas nuances vocais ao canto popular. Com adequada funcionalidade, especialmente em Hallelujah (Leonard Cohen), Crazy(Seal),Viva La Vida (Coldplay). E de mais limitado alcance no pout pourri de música latina.
À base de uma boa composição orquestral (sob comando de Yacoce Simões) reunindo cordas e sopros, com dez integrantes, paralela a uma banda de composição mais roqueira (bateria, guitarra e teclados). Numa potencializada concepção de luzes e cores (Irma Vidal/VJ Gabiru) conectando o psicodelismo de efeitos luminares a estetizantes projeções 3D.
Onde o grande momento acaba sendo mesmo o de uma esperada rentrée no universo da ópera, nos pedidos do bis. Afinal, quase como uma espécie de recado para a volta ao gênero básico que projetou Arancam além fronteiras. Com visceral brilho de tessitura vocal no Nessun Dorma e que, unindo seu energizado volume ao presencial expressivo, culmina encerrando o espetáculo, numa cúmplice adesão palco/plateia.
Wagner Corrêa de Araújo
THIAGO ARANCAM - BELA PRIMAVERA - Pop/ópera show cenográfico. Em turnê nacional - BH, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador, SP. 120 Minutos Até novembro / 2018.
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