"RIGOLETTO" ÓPERA POLITICAMENTE INCORRETA NO THEATRO MUICIPAL DE SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Cenário da ópera Rigoletto.
Estreou no último dia 20 de Julho o que imagino ser a principal montagem operística do ano no Theatro Municipal de São Paulo, o Rigoletto de Verdi. A ópera é recheada de tramas, vinganças e aristocratas poderosos. Sucesso do século XIX que entre no século XXI sendo montada em todos os grandes teatro líricos do mundo.
Suas letras musicais hoje seriam massacradas pela patrulha feminista por serem politicamente incorretas. A mais famosa de suas árias La Donna È Mobile nos diz que: "A mulher é volúvel/ como uma pluma ao vento/muda de palavras e de pensamento. Coitado do Verdi e do libretista Francesco Maria Piave se estreassem a ópera nos dias atuais. Me espanta que ainda nenhuma feminista chatona tenha reclamado. Quem sabe um dia elas peçam para mudar a letra da música.
Lembrando que o mesmo teatro montou essa ópera em 2011 homenageando os 100 anos da casa. Felipe Hirsch inventou moda e conseguiu o título de pior direção de cena do ano juntamente com a montagem eleita a pior espetáculo de ópera. O único que se salvou foi o Rigoletto de Rodolfo Giugliani, não entendo porque não foi escalado nesse ano.
A montagem é impactante. A estética visual do Rigoletto prova que a tradição operística pode caminhar ao lado de montagens modernas sem perder a essência. Jorge Takla dirige de forma a traduzir o enredo em cenas de fácil compreensão. A abertura dá um soco no estômago mostrando o terror que será o caminhar da história com a nudez feminina exposta. A economia de recursos com as projeções não atrapalha a fluidez das cenas. O encontro entre Rigoletto e Sparafucile perde a intensidade dramática devido à falta de cenários. A cena final com o mar ondulando ao fundo é um requinte de rara beleza. (foto acima)
Takla entende a voz lírica e coloca os solistas de vozes menores na ponta do palco ajudando na projeção. Os cenários de Nicolás Boni são um luxo, impactantes e críticos. Traduzem a aristocracia em decadência, uma sociedade de minorias arbitrárias e sem limites. Os figurinos de Fabio Namatame são de beleza única, enriquecem e dialogam com as cenas. A luz envolvente é assinada por Ney Bomfanti.
O elenco do dia 21 de Julho teve como Rigoletto o barítono Rodrigo Esteves, sua voz não tem o impacto e o volume que se espera do personagem, compensa com atuação cênica digna dos grandes atores teatrais. Dario Schmunck é tenor de voz pequena, seu timbre é lírico, com agudos claros. Falta a potência impactante a um grande Duque de Mântua, sua voz que deveria encher a sala, fica restrita em tamanho.
Carla Cottini é soprano lírico com timbre de rara beleza. Voz cristalina, afinada e melódica. Pena ter sido econômica nas coloraturas. Suas apresentações no Theatro São Pedro/SP são um primor. O tamanho da sala faz diferença, no Theatro Municipal de São Paulo todo seu lirismo e encanto vocal aparece reduzida. Atuação cênica excelente como Gilda, verdade seja dita, Cottini encanta com sua beleza.
Luiz-Otavio Faria em cena de Rigoletto, foto de Heloisa Baillarini e Fabiana Stig.
O único cantor impecável da noite foi Luiz-Otavio Faria, baixo de carreira internacional com apresentações pelos grandes teatros do mundo. Imprimiu sordidez ao personagem Sparafucile com uma voz madura e cheia de graves potentes. Outros destaques ficam com Magda Painno como Maddalena e Davi Marcondes como Conde Monterrone.
Um recado aos críticos de Roberto Minczuk, aqueles que afirmam de boca cheia que ele não é um regente de óperas. Quem entende do riscado e este que escreve entende muito viu a destreza do regente ao segurar o volume orquestral visando não cobrir os solistas de vozes pequenas. Faz isso quem conhece do assunto, outros teriam avolumado o som e deixado as vozes desaparecem. No caminhar da récita exibe os contrastes musicais presentes na partitura em volume cadenciado com as cenas.
Ali Hassan Ayache
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