QUEM REALMENTE VAI AO TEATRO DE ÓPERA PELO TEATRO? ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

Essa tal onda de teatro de diretor me faz perguntar se algum admirador de ópera realmente está interessado quando assiste a um espetáculo lírico na intriga e no quiprocó mais do que na música.

A maioria dos libretos de ópera passa longe de ser literatura e dramaturgia de primeira. Voltaire chegou até a dizer sobre a ópera "o que é imbecil demais para ser dito está sendo cantado". Ao invés de "obra de arte total" a maioria das óperas não passa de um carnaval das artes e o maior responsável pelo sucesso ou fracasso da empreitada é sempre o compositor. Já se discutiu muito a qualidade ou falta de qualidade literária de libretos de grandes óperas e nunca se discutiu o libreto de nenhuma ópera com música ruim!

Quando a ópera surgiu no final do renascimento tinha a grande pretensão de reviver a tragédia grega. Já em meados do mesmo século em que surgiu essa forma de arte já era a celebração sem vergonha da melodia após o ápice da complexidade da polifonia medieval. O mesmo libreto servia para várias óperas e a mesma música servia para libretos de ópera seria ou cômica, isso não só no barroco, até Rossini fez coisas assim.

As pessoas musicais não precisam que esfreguem as coisas na cara delas como o público de cinema ou de teatro que precisa de estímulo visual. Muito menos querem que algumas de suas músicas favoritas sejam atrapalhadas por ou acompanhadas de movimentos cênicos, projeções de imagens ou coreografias que não tem nada a ver.

Sobre a defesa de causas e posições políticas, acho muito melhor escrever um livro, fazer um protesto na rua ou se filiar a um partido se uma pessoa quer defender uma posição ou ideologia do que enfiar política e ideologia num espetáculo onde esses elementos tem que competir pela atenção do público em meio de música, coreografia e movimentações cênicas. O cérebro humano tem dificuldade de processar tanta informação ao mesmo tempo!

Infelizmente na ópera, como no teatro, pessoas pseudo cultas que querem aparecer em cima de uma peça clássica podem pegar carona numa obra do repertório e encená-la de maneira esdrúxula, como temos vistos de um tempo para cá. É algo que já deu certo por exemplo nos casos do Anel de Patrice Chereau ou do Romeu e Julieta de Baz Lurmann, para mim tão bom quanto o de Zeffirelli( cuja versão da Traviata para o cinema não gosto pelo fato da protagonista Stratas não ter voz para cantar Traviata, inclusive é a única ópera filmada cuja trilha sonora foi pouco comercializada).

No caso da presente versão do Guarani do Municipal de SP, PREFIRO PASSAR LONGE! SE FOSSE AO TEATRO SERIA PARA VAIAR E ARMAR UM ESCÂNDALO! Eu quero ter o direito de ouvir uma ópera em paz sem mil elementos cênicos desconexos brigando pela minha atenção. Gostaria de deixar bem claro, EU SEMPRE VOU DEFENDER A MÚSICA!

Isaac Carneiro Victal