"GRANDE EVENTO": TEMPORADA 2025 DO THEATRO MUNICIPAL DO RJ. ARTIGO DE JADSON MUNDIM NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
O que se vê é mais um roteiro anêmico, morno e repetitivo, embrulhado em uma estética de “grande evento” para esconder o marasmo criativo que domina a gestão da casa.
Homenagear Johann Strauss II em pleno 2025 é sintomático. Sim, sua obra tem valor histórico – mas será mesmo que é isso que o público do Rio, do Brasil, da cultura precisa agora? Quantas vezes mais vamos assistir “Uma Noite Vienense” enquanto compositores brasileiros contemporâneos, coreógrafos emergentes, criadores de todas as regiões do país continuam invisíveis, ignorados, escanteados? A cultura nacional não precisa de mais uma reverência à Europa: ela precisa de coragem.
Essa programação não é celebração. É fuga.
O investimento de R$ 11 milhões em infraestrutura é, sim, necessário, mas não podemos mais aceitar que essas cifras sejam utilizadas como maquiagem institucional. Pisos modernos e sistemas digitais importados não significam nada se por trás deles ainda vigora uma mentalidade colonial e engessada. Não há política cultural, não há democratização do acesso, não há plano real de aproximação com o povo – há apenas manutenção de um teatro para poucos, com uma arte para menos ainda. Suficiente lembrar de "Il Trittico" (Puccini) em julho de 2024, e entre outras óperas, a "Carmen" de 2023; dois fracassos, dois vexames.
E não me venham com os concertos didáticos como justificativa para alcance social. Isso é tapa-buraco. É esmola cultural. Uma ou duas ações isoladas não compensam a ausência gritante de um projeto contínuo, inclusivo, descentralizado. O Theatro Municipal do Rio de Janeiro precisa parar de viver de fachada e assumir seu papel como epicentro da cultura nacional, e não como vitrine cansada da elite carioca.
Como arquiteto, artista e cidadão, digo com veemência: o Municipal está se tornando uma caricatura de si mesmo. E se não houver uma ruptura profunda – estética, institucional, simbólica – essa caricatura vai virar ruína.
É hora de dizer basta. Basta da mesmice. Basta da covardia artística. Basta do silêncio institucional. Ou esse teatro se abre para o novo e para o povo, ou ele afunda, dourado e vazio, em sua própria irrelevância.
Jadson Mundim
Nota do Editor: texto enviado como comentário que foi publicado como artigo.
A maquiagem institucional, aplicada com pincéis de cinismo e retórica vazia, mal disfarça a podridão que se alastra nos bastidores. Os maquiavélicos por detrás das coxias — articuladores de conveniências e favorecimentos — operam com maestria nas sombras, manipulando narrativas e silenciando vozes autênticas. Na classe musical, os “guetos” protecionistas formam redutos de privilégio disfarçados de resistência. Neles, impera a lógica da exclusão disfarçada de inclusão, onde a curadoria serve mais aos interesses de seus pares do que à arte em si. A vergonha é pública, mas a manutenção do sistema se dá nos bastidores, onde os pactos são selados longe dos olhos e ouvidos do povo. Enquanto isso, o Brasil sangra em silêncio, padecendo dia após dia sob o peso de uma cultura instrumentalizada e de instituições que fingem servir ao bem comum, mas estão a serviço de suas próprias máscaras.
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