MINIMALISMO MUSICAL. ARTIGO DE VIVIANE CARNIZELO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Introdução
O Minimalismo Musical é um movimento estético que surgiu nos Estados Unidos no Século XX. Este é o primeiro de uma série de textos breves que abordará o contexto da época, os recursos de composição, alguns nomes do movimento, o que a filosofia da música diz sobre o assunto e, por fim, uma ligação do tempo da repetição do minimalismo musical com o tempo psicanalítico.
Contexto de rupturas
Na década de 60, época do surgimento do Minimalismo, tomava forma a ideologia da contracultura. Marcada pela insatisfação com o contexto histórico-cultural da época, ela se opunha aos valores tradicionais vigentes e propunha a disseminação de um espírito libertário, negando as correntes conservadoras e propondo transformações de valores e comportamento. Neste ambiente surge, por exemplo, a Geração Beat, formada por jovens intelectuais e artistas da época que questionavam a falta de pensamento crítico para repensar a sociedade. É a década do Festival de Woodstock no estado de Nova Iorque e da Revolução de Maio de 68 com início na França. É nessa atmosfera de contestação que surgem movimentos artísticos que buscam algo que possa ser considerado novo e/ou que neguem a estética vigente em suas áreas de produção.
Nos anos 50, o sistema era representado pelo Serialismo, um método de composição baseado na utilização de séries, sendo o Dodecafonismo de Schoenberg, datado de fins do século XIX, sua primeira forma. O Dodecafonismo funciona da seguinte maneira: antes que o processo de composição tenha início, é estabelecida uma série para as doze notas da escala cromática (dó, dó#, ré, ré#, mi, fá, fá#, sol, sol#, lá, lá#, si). Tanto a melodia quanto a harmonia da peça que daí surgir, obedece à série. O resultado é uma peça cuja forma evita um centro tonal.
Nos anos 60, o Minimalismo surge como uma tentativa de rompimento, tendo como expressão a simplicidade da forma, a repetição de pequenos trechos com nenhuma ou pouca variação, harmonia enxuta e estaticidade das figuras musicais e das cores. Enquanto o Serialismo tenta evitar a formação de um centro tonal, o Minimalismo afirma e reafirma uma centralidade ao propor a repetição. E, quando a indeterminação procurava trabalhar a escolha e sua imprevisibilidade, o Minimalismo propunha uma simplicidade tal no processo de composição ao ponto de as escolhas do compositor possam ficar claras para quem lê a partitura ou escuta a peça. O processo aparece.
O Minimalismo não é um movimento exclusivamente musical. Nas artes plásticas o caráter geométrico e a limpeza formal são comparáveis à simplicidade da forma do Minimalismo Musical. A produção de objetos em série que alterassem a percepção do observador do ambiente era uma tentativa de romper as barreiras entre pintura e poesia. O design, além de reduzir a forma, reduz as cores ou mesmo as anula. A literatura é caracterizada pela economia de palavras e personagens comuns, tendo nos Estados Unidos, como representante, o escritor Ernest Hemingway.

Entre os nomes do Minimalismo é possível destacar Philip Glass, Steve Reich, Arvo Pärt, John Adams, Yann Tiersen e o brasileiro Gilberto Mendes, influenciado pelo movimento e falecido no início deste ano. Como muitos de seus representantes continuam em atividade artística, pode-se dizer que o movimento ainda tem fortes contornos no cenário musical. Philip Glass, por exemplo, produz e se apresenta com certa frequência, tendo feito sua última aparição no palco da Sala São Paulo no segundo semestre de 2011. Ele pode ser considerado o principal nome do Minimalismo Musical, cujas principais características serão assunto do próximo texto.

Viviane Carnizelo

Bacharel em Comunicação ECA-USP. Estudante de Filosofia FFLCH-USP.

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