MOMIX/ALICE : MULTI-ESPETÁCULO CÊNICO CONECTA DANÇA E ACROBACIA SOB EFEITOS PSICODÉLICOS. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

Alice/Momix. Moses Pendleton/Direção Coreográfica / Concepcional. Junho/2024. Fotos/ Sharen Bradford.


Na proximidade de seu meio século, o grupo Momix volta aos palcos brasileiros com sua mais nova criação - Alice -, estreada em 2018, sendo inspirada no popular livro (Alice in Wonderland) do inglês, poeta e escritor, Lewis Carrol, século XIX, e nas psicodélicas impressões plástico-musicais da artista americana, anos 60/70, Grace Slick, com suas pinturas da série White Rabbit.

Sob o ideário de Moses Pendleton, diretor e coreógrafo de uma das mais reconhecidas companhias da dança contemporânea mundial que, a partir de 1981, imprimiu uma inventiva transmutação nos processos investigativos da concepção no entorno de um multi-espetáculo artístico.

Capaz, assim, de reunir dança, coreografia, acrobacia e efeitos cinético-visuais, num experimento artístico múltiplo. Ao provocar viagens pelos espaços siderais da mente, com suas alucinantes conexões de sonoridades e revolucionárias visões cênico-gestuais, convergindo numa obra de arte total, conectada com os avanços tecnológicos da contemporaneidade.

Embora este dimensionamento estético não consiga, por vezes, escapar de uma fria tecnicidade que prejudica a emoção pura da dança pela dança, quando a imanente expressividade da gestualidade corporal pode chegar a ser absorvida pelo risco da prevalência de um design de aboluto domínio digital.

Alice/Momix. Moses Pendleton/Direção Coreográfica/Concepcional. Junho/2024. Fotos/Sharen Bradford

Em Alice, ao contrário de outras criações do Momix, onde havia sempre uma coletânea de peças independentes, mesmo que tivessem uma certa conexão temática, há a preocupação de de se estabelecer uma narrativa fabular unitária, tendo como substrato as aventuras daquele personagem Alice no País das Maravilhas.

Na especificidade de um diário de viagem que conserva o habitual formato fragmentário do Momix, mas sempre priorizando os relatos fantasiosos com a intervenção dos caracteres que marcam figuras típicas como o Chapeleiro Maluco, as Rainhas de Copas, de Espadas e de Paus, além do Coelho Branco.

Este último desdobrando-se em inúmeros coelhos, saindo de suas tocas sugestionadas por baldes, baseando-se nas figurações plásticas de Grace Slick que se estendem a outros animais como um Gato, uma Lagarta Azul, uma Aranha Branca Gigante, enumerando-se, aqui, apenas parte deles.

Sem esquecer das exóticas representações de bebês através de uma facial máscara fotográfica, desproporcional ao corpo dos bailarinos, revelando inusitadas expressões irônicas de riso e de choro. Ou por intermédio de figuras surrealistas resultantes de atrevidos contorcionismos da corporeidade acrobática dos intérpretes.

Num cenografia com projeção de paisagens marítimas ou florestais integrando-se à fluente fisicalidade da performance dos bailarinos, seja através das poéticas alusões de rosas vermelhas suspensas no ar ou do envolvente jogo de espelhos translúcidos que criam planos transespaciais.

Com os exponenciais efeitos causados por figurinos (Phoebe Katzin) aquarelados com predominância de tons rubros e negros que elevam as Alices do solo ao topo da caixa cênica. Tudo sob efeitos luminares (Michael Korsch) de um psicodelismo hipnotizante e que se coaduna com um potencializado videografismo.

A trilha sonora pontuada por toques percussivos, embora soe com um cadenciamento rítmico reiterativo, é estruturada em 22 temas, com idas e voltas, equivalente ao número de quadros. Incluindo referências musicais diversas, passando pelo lirismo da abertura à explosão pop-roqueira do final, depois de acordes meditativos de um réquiem e de uma melodia indiana.

Uma emblemática simbologia abre e termina o espetáculo quando, segundo as indicações de Moses Pendleton, o livro de Alice deve ser lido por ela de cabeça para baixo ao convocar dançarinos e espectadores para uma delirante viagem de sonhos, sinalizando, na sua releitura em posição normal, a proximidade do epílogo..

Wagner Corrêa de Araújo

Alice/Momix depois de sua apresentação no Qualistage/RJ, dias 22 e 23, segue para Belo Horizonte e São Paulo, nos próximos finais de semana de Junho/2024.

Alice/Momix depois de sua apresentação no Qualistage/RJ, dias 22 e 23, segue para Belo Horizonte e São Paulo, nos próximos  finais de semana de Junho/2024.

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