LADY MACBETH DE PORTEIRA FECHADA NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   


   Dando prosseguimento ao que o Theatro Municipal de São Paulo chama de temporada esta sendo exibida a ópera "Lady Macbeth de Mtsensky" de  Dmitri Shostakovich. Por causa dela o grande compositor soviético quase foi parar no xilindró da Sibéria. Stalin, o grande ditador do país, assistiu a ópera e parece não ter gostado nada dela. Disse que não representava a alma russa. A sorte de Shoostakovich foi o sucesso da quinta sinfonia ter lhe salvado a pele.
   A música de Lady Macbeth de Mtsensky é fenomenal: potente, enigmática e muitas vezes um soco no estomago. Uma de suas características é dialogar com as cenas, todas as notas fazem sentido e casam exatamente com o que se passa no palco. Não espere grandes melodias, árias deliciosas e musicalidade adocicada. Shostakovich faz nos anos 30 o que os compositores de hoje tentam sem sucesso, compôr música de qualidade sem ser melódico. 
   O destaque positivo da apresentação é a Orquestra Sinfônica Municipal, a regência de Vladimir Ponkin mostra força ou delicadeza quando necessários. A OSM enfrenta as complexas passagens com uma musicalidade que sempre está no volume e sonoridade correta. O Coro Lírico Municipal de São Paulo esteve com vozes equilibradas, recheado de solistas consegue com facilidade mostras qualidades únicas.
   A montagem é uma produção original do teatro Helikon-Opera da cidade de Moscou do qual eu nunca tinha ouvido nada sobre o mesmo. Da Russia veio tudo com porteira fechada completa. Um total de 23 profissionais, haja hotel, alimentação, hospedagens e cachês pagos pelo erário municipal, é isso mesmo quem paga é você caro leitor. Até o menor papel foi cedido a um russo, quando achei que já tinha visto de tudo ocorre mais essa surpresa, nenhum solista brasileiro escalado.

   Dmitry Bertman é o responsável pela direção cênica, mescla boas cenas que ressaltam a dramaticidade do libreto com passagens que lembram a comédia pastelão. Esse tipo de dualidade não combina com um libreto que prima pelo psicológico e pela tensão dramática. Fica patético e acaba em um ridículo atroz. O cenário de Igor Nezhny é estático, canos de água ou de esgoto se entrelaçam na casa da personagem. Será que alguém mora em um ambiente assim? 
   A gaiola de ferro que representa o quarto da protagonista simboliza o aprisionamento ou a opressão feminina das mulheres russas ou das mulheres em geral, Essa cena já é um clichê do tema e não diz nada de novo. Diversas movimentações dos solistas e coro acompanham a música, mais um clichê manjado, feito e refeito diversas vezes pelos teatros do mundo.
   Os solistas foram no máximo medianos, na apresentação do dia 13 Anna Pegova mostrou potência na voz com um timbre que oscila entre o claro e o escuro, seu destaque foi a atuação, imprimiu dramaticidade á personagem Katerina. O Sergei de Ilia Govzich não apresentou nada de excepcional, sua voz é comum. Dmitry Skorikov fez um boris abaixo do esperado, voz fraca que apresentou falhas em diversas passagens. 
   A direção do Theatro Municipal sempre surpreende, no início da administração os programas das óperas eram dados aos espectadores, depois cobra-se a taxa de cinco reais, essa passou passou para dez, que aumentou para vinte e nessa ópera é vendida a trinta. O que justifica esse aumento?
Ali Hassan Ayache

Lady Macbeth de Mtzensky, fotos Internet.
    

Comentários

  1. Crítica justa e concisa! Pouco direi pois esta já engloba muito sobre o que poderia escrever. Gostei do que vi, mas com ressalvas. E de fato R$30,00 pelo programa é "um pouco" absurdo!

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  2. Vi a ópera quatro vezes, fantástico, porém o fato de ter vindo todo o pacote da Rússia não vejo nisso um grande inconveniente. Afinal devido a dificuldade imposta pelo idioma isso se fez valer. Shostakovich indiscutivelmente é um gigante....foi magnifico....

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