O LAGO DOS CISNES : EM NOVA REMONTAGEM, O BALLET DO THEATRO MUNICIPAL MOSTRA QUALITATIVO EMPENHO ARTÍSTICO. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DA ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


O Lago dos Cisnes. BTM/ Helio Bejani/Direção Concepcional. Com Juliana Valadão e Cícero Gomes.Maio/2024. Fotos/Daniel Ebendinger.

Entre os três celebrados balés compostos por Tchaikovsky - Quebra Nozes, Bela Adormecida e Lago dos Cisnes - nada se compara ao emblemático efeito de magia provocado por este último, tanto pelas suas carismáticas tessituras orquestrais, como por sua icônica coreografia (Petipa/Ivanov) que vem resistindo há quase um século e meio.

Isto sem deixar de falar em sua temática poético-romântica sobre uma metafórica paixão inspirada a um príncipe pela desafiadora ambiguidade de uma personagem, ora mulher ora cisne, numa fabulação de amor e traição entre o bem e o mal, este representado pelas sinistras artimanhas de um feiticeiro.

Com um referencial mítico proveniente de ancestrais culturas européias no entorno do simbolismo lendário da pureza dos cisnes brancos, seres alados que eram evocados em suas planações sobre os lagos, como mensageiros da chegada dos calores e das alegrias da estação primaveril.

Este êxito permanente na preferência do público de dança também se dá pela prevalência de seus trechos antológicos na trajetória histórica do balé clássico. O que torna maior a exigência técnica, tanto na preparação de seu elenco, como no necessário cuidado artesanal na remontagem de sua coreografia original.

Lago dos Cisnes. Jorge Teixeira/Maître do BTM. Com Gustavo Carvalho e Marcella Borges. Maio/2024. Fotos/Daniel Ebendinger.


Havendo uma nítida percepção deste empenho nesta recente versão de O Lago dos Cisnes pelo Ballet do Theatro Municipal, sob um acertado comando concepcional, respectivamente do diretor Hélio Bejani e do maître Jorge Teixeira, trazendo promissores ares na retomada do prestígio como melhor Cia oficial de dança clássica do país. 

Na continuidade de rigorosa preparação do seu Corpo de Baile a partir da entrada, por intermédio de criteriosa seleção, de outros integrantes, estes já demonstrando unicidade qualitativa com o staff anterior de bailarinos. Com um visível desempenho sob harmônica plasticidade nas cenas de conjunto dos atos brancos ou nos encontros grupais, especialmente nas danças de caráter - italianas e espanholas,  na mazurka e nas czardas. Ou pelo alcance da conexão técnica/gestual no tão aplaudido Pas de Quatre.

Com aproveitamento de cenografia e figurinos do acervo da FTM, presos à tradição no discricionário cenário em telões e sob uma mais cerimonial indumentária.Tudo ressaltado no contraste luminar (Paulo Ornellas) de claridade das ambientações palacianas dos atos I e III, às tonalidades mais sombrias nas cenas do lago entre árvores.

Orquestra Sinfônica do TM/RJ sendo conduzida com brilho por Tobias Volkmann, tornando-se este um dos regentes mais requisitados para o grande repertório clássico do balé. Salvo alguns fugazes descompassos das trompas na noite de estréia, toda a partitura teve um expressivo alcance desde o sotaque de melancolia em algumas passagens com solos de harpa, cordas e sopros, aos agitatos de allegros dançantes.

Onde, ao longo de suas onze récitas, alternam-se três duplas de intérpretes protagonistas como Siegfried e Odette/Odile, todos com distintas qualificações destacando-se, sempre, por convicta e emotiva psicofisicalidade na entrega aos seus papéis.

De uma quase etérea leveza da Odette/Odile de Manuela Roçado à precisão sensitiva/irônica nesta dicotômica metamorfose por Juliana Valadão, sem deixar de registrar a envolvência da postura longilínea de Marcella Borges na dúplice personificação.

Quanto ao Príncipe Siegfried, vale evidenciar a presença marcante de dois primeiros bailarinos do BTM, de um lado o elegante porte tecno-coreográfico de Filipe Moreira e, de outro, Cícero Gomes numa adequação coreodramática absoluta neste papel, depois de mostrar em montagens anteriores deste balé no palco do Municipal, a força burlesca e cativante de seu Bobo da Corte.

Completando este quadro balético, a participação de um  brasileiro da recente safra (aqui convidado, como David Motta Soares no Lago de 2022) de jovens talentos em franca ascendência, nas suas carreiras permeadas com participações em cias estrangeiras.  Referência de Gustavo Carvalho que no momento atua como um dos primeiros solistas do Ballett am Rhein, de Dusseldorf, dando vazão à sua já vasta experiência no clássico e no contemporâneo.

A química de sua atuação impecável como um passional Siegfried ao lado de uma romantizada Odette/Odile por Marcella Borges, completa o encantamento deste elenco irradiante de craques que, afinal, concorrem para fazer deste Lago dos Cisnes, com o Ballet do Theatro Municipal, uma das mais gratificantes surpresas da temporada coreográfica brasileira de 2024.

                                 

                                             Wagner Corrêa de Araújo



 O Lago dos Cisnes/BTM está em cartaz, no Theatro Municipal/RJ, de 23 a 25/04, às 19h; até domingo, 26 de abril, às 17h.

Comentários

  1. Linda Matéria 👏👏👏👏
    Realmente o Lago dos Cisnes é imperdível !

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