OSESP: ELITIZAÇÃO DO SEU PÚBLICO OU MÁ GESTÃO ADMINISTRATIVA ? ARTIGO DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

   Sala São Paulo, palco ao fundo e cadeiras vazias.


   O que vem acontecendo nos concertos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) é fruto de: empenho para elitização social de seu público ou má gestão administrativa.
   Fatos não mentem. É sabido que a diretoria da fundação OSESP adora a turminha dos endinheirados, mas o que está acontecendo em todos os concertos beira ao acinte total.
   Uma medida tomada no começo de 2013 visou estritamente “diminuir” o público menos favorecido. A direção cortou os chamados ingressos da hora, vendidos entre 10 e 20 reais, dez minutos antes do início dos concertos. Este ano cortaram os ingressos chamados “Meia da meia”, que eram vendidos toda Sexta-feira por 10 e 20 reais. Lembro que duas instituições que apresentam concertos na Sala São Paulo, Mozartreum e Cultura Artística tem ingresso da hora.
   Para amenizar a situação as sextas eles dispõem de uma cota “muito simbólica” do chamado passe livre para estudantes universitários ( que vem a ser uma ínfima fatia da população).
Semana passada a grande violinista Isabelle Faust se apresentou na Sala SP,  ocorreu um burburinho de dezenas de estudantes de música (grande maioria deles de violino) estavam quase implorando com os funcionários da bilheteria por um convite de doação. Resultado, a maioria não conseguiu e desistiu de ver a verdadeira “aula” de música da grande mestra do violino.
   Para estes recitais não tiveram o chamado “Passe livre”, e , também não teve venda de ingressos para o setor “coro”, que é o setor mais barato da sala. Os ingressos custavam mais de 50 reais. Para estudantes ou para público em geral, isso é muito caro. Lembrando que foram três recitais da magnífica violinista. Durante os concertos o coro estava completamente vazio.
   Nenhuma instituição deve ficar distribuindo convites, porém o mais intrigante é que sobraram dezenas (ISSO MESMO...DEZENAS...) de ingressos de convidados de patrocinadores. Os convidados da elite estão pouco se lixando para cultura. Os funcionários da Sala SP, por orientação da direção, tem ordem expressa de jogar os ingressos que sobraram no lixo ao invés de distribuir aos estudantes que clamavam para assistir aos recitais. Em um país como nosso, que clama para formar um público de música de concerto, isso é no mínimo um absurdo, para não dizer “UM CRIME”.
   Os funcionários com cara extremamente fechada parecem preferir estar longe dali, obedecem a contragosto e se dizem indignados com os fatos, “também achamos um absurdo mas estamos cumprindo ordens” ou então "não podemos dar os convites a vocês estudantes por que os convidados podem chegar até a última música”.
   Os convidados da OSESP, além de não pagarem entrada (sendo todos ricaços), ainda tem o direito de entrar a hora que quiserem no concerto e tirar a vaga de gente que realmente é público fiel ? Isso é como jabuticaba, só tem no Brasil. Em Viena ou Londres nem um ministro da cultura teria a regalia de chegar a hora que quiser sendo convidado.
    É deveras sabido que a maioria dos convidados não irão ao concerto, quanto mais chegar nas últimas músicas. Prova disso são as dezenas de envelopes com convites indo para o lixo na cara dos estudantes e da população que realmente faz jus ao dinheiro investido nesta “fundação”.
    Durante os concertos o coro estava completamente vazio. Questiono a direção de OSESP,  por que  não venderam a um preço acessível o coro ? Quanto mais público, mais o artista se sente prestigiado, mais tem vontade de voltar, atrai mais patrocínios, atrai mais o interesse do estado...então qual é a moral de não estar à venda os ingressos populares ? Cabe uma resposta diretor ? Ou você está mais preocupado em badalar com seus ilustres amigos do que responder a voz do povo. E pasmem senhores, diante disto tudo, a Sala SP estava, nos três recitais, muito aquém de sua lotação máxima.
   Um aparelho do estado, como a fundação OSESP, não visa lucro, visa democratizar a música erudita de excelência. Fazer esse papel mesquinho é de uma estupidez absurda. Entra a velha máxima "Nem tudo que é legal é moral!"
Ali Hassan Ayache

Comentários

  1. De partida quero parabenizar o senhor Ali Ayache por ter coragem de publicar este blog e assinar com o nome verdadeiro,muita gente não possui coragem nem em pensamento de formular uma denúncia como esta.
    É público e notório que todas as instituições culturais da nossa nação sobrevivem praticamento somente com dinheiro do estado e assim é praticamente no mundo inteiro talvez com ligeira exceção dos Estados Unidos.Essa postura arrogante dessa elite incomodada em respirar o mesmo ar que pessoas de outras classes sociais e jovens com o estilo próprio dessa idade parece supor que é esta casta de ricos que sustenta a referida orquestra,como fazia a nobreza do antigo regime ou a igreja católica por exemplo com os artistas do passado;mantinham sobre rédea curta os pintores,músicos poetas e dramaturgos etc,mas no caso presente das instituições nacionais atualmente muitas estão falidas e nossos ricos banqueiros por exemplo como sempre pouco se empenham em ajudar!Esta gente pode se pavonear como quiser frequentando concertos e óperas,mas não vão nunca assumir uma postura de mecenas E AINDA POSSUEM O DESCARAMENTO DE ATACAR O ESTADO!Isaac Carneiro Victal.

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  2. Maravilha esse post. Meu filho foi aluno do coro infantil da Osesp e já aconteceu de irmos pegar ingresso pra família participar no segundo dia após estarem disponíveis na bilheteria e não ter nenhum. Nós, pais, ganhamos Um convite e temos que assistir separados. Aí vc vê aquela enormidade de lugares vazios. Frustrante.

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  3. Por fim, o direito ao abatimento de 50% deve incidir inclusive sob os ingressos promocionais, para que, de fato, todos aposentados, estudantes, professores e melhor idade (acima de 60anos) o ingresso pela metade do preço do ingresso vendido ao restante da coletividade.

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  4. Com tão pouco público um dia a "diversão" da elite acaba. Aí terão que pegar o avião para se divertir e reclamando da "pobreza cultural do país", provocada por ela mesma, a "zelite", como diria o João Ubaldo Ribeiro.

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