CARLOS GOMES, MAIS FAMOSO ARTISTA BRASILEIRO DO SÉCULO XIX. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Carlos Gomes nasceu no dia 11 de julho de 1836, na hoje Campinas-SP, e faleceu em Belém do Pará em 16 de setembro de 1896. Foi o artista brasileiro mais conhecido em todo o mundo no século XIX, a bem da verdade o único realmente largamente conhecido, e o mais famoso brasileiro de seu século dentro da modalidade de arte a que se dedicou.
Suas obras foram executadas em todos os cantos do mundo, pelos mais célebres intérpretes da época, sempre com sucesso de público e crítica. Trechos de suas óperas se tornaram parte do cancioneiro popular italiano. Recentemente o cineasta Federico Fellini, em seu filme "I CLOWN", ao por em cena um velho palhaço cantarolando melodias de seus velhos tempos o faz entoar “Mia Piccirella”, da ópera “Salvator Rosa”, de 1873.
Carlos Gomes foi o único brasileiro de origem popular a tornar mais conhecido o Brasil em todo o mundo. Fora dele, só os membros da família imperial eram conhecidos. Afinal de contas, nossos dois imperadores pertenciam pelo lado materno de ambos à mais alta linhagem nobiliárquica: a mãe de Pedro I, Carlota Joaquina, era filha do rei da Espanha Carlos IV, uma Bourbon de ascendências habsbúrgicas, e a mãe de Pedro II, Leopoldina, era filha do imperador da Áustria Francisco José II, portanto uma habsburgo do mais alto grau.
Nosso imperador Pedro II tinha livre trânsito nas casas reinantes européias e, além do mais, era conhecido por sua erudição. Mas fora de nobres da família imperial, fora de Caldas Barbosa e suas modinhas em Portugal e fora dos anônimos brasileiros gastadores que iam para Paris “para que esta lhes roubasse o que eles tinham roubado em sua terra “ (ver “La Vie Parisienne”, de Offenbach, canção do "brasileiro"), nenhum brasileiro fazia com que o europeu médio pensasse no Brasil, ou mesmo tivesse ideia de que o Brasil existisse. Carlos Gomes pôs o nome e a idéia de Brasil na mente dos europeus, que começaram a indagar-se “mas que país é este que nos envia compositores dessa altura, dessa inspiração e dessa competência?”
Certamente havia na Europa em meados do século XIX edições em tradução de obras literárias brasileiras, como de José de Alencar, de Gonçalves de Magalhães e outros, imprimiam-se partituras de autores brasileiros em oficinas européias, a casa imperial, Taunay e outros se esforçavam para que pintores brasileiros expusessem suas obras nos salões europeus, mas tudo sem a penetração popular que só viria com as obras de Carlos Gomes.
Este viveu na Itália a maior parte de sua não longa vida, casou-se com uma italiana, teve quatro filhos, mortos todos ainda jovens, com exceção da filha Itala, falecida no Rio de Janeiro em 1948, mas conservou sempre seu extremado e visível amor pelo Brasil, facilmente verificável em toda sua obra, em seus escritos, em suas intenções.
Certos segmentos dos círculos musicais brasileiros tendem a tecer críticas negativas a Carlos Gomes, taxando-o de compositor de óperas (o que já é pejorativo em alguns circuitos...), além do mais de óperas italianas. Quanto a ser pejorativamente compositor de óperas, ocorre lembrar aos interessados que algumas delas são responsáveis por decisivas reviravoltas em toda a música, vide “As Bodas de Fígaro”, de Mozart, vide “Tristão e Isolda”, de Wagner, vide o Pélleas debussyniano.
Quanto a ser compositor de óperas italianas, o era na língua dos libretos, nos esquemas de árias, conjuntos, concertatos. Na substância musical, era um genial compositor brasileiro de linguagem pessoalmente internacional. Como o Mozart do “Don Giovanni”: libreto italiano de autor e língua, abertura, árias, concertatos, duetos, trios, quartetos, sextetos. É o “Don Giovanni” uma ópera italiana?
Com notabilíssima agudeza crítica, o professor Wilson Martins, em sua monumental “História da Inteligência Brasileira” (Cultrix, SP, 1977) alega que teria sido muito melhor para o Brasil se Carlos Gomes não tivesse ido para a Itália, e tivesse ficado aqui mesmo, consolidando a música brasileira e dando nascimento mais cedo a um nacionalismo musical que só viria depois da República. Hipótese altamente sedutora a do ilustre mestre, mas hipótese. Se...
Nos manuais é comum que façam referências a Carlos Gomes como “o maior operista das Américas”, ou títulos semelhantes. Neste 11 de julho natalício é bom que alguém diga que CARLOS GOMES foi genial compositortout court, influenciador decisivo do melodrama italiano, brasileiro amado e amante, figura decisiva na formação da nacionalidade, e que sua obra foi poderoso tônico para o orgulho nacional, no dizer do mesmo Wilson Martins.
MARCUS GÓES (1939-2016)
Suas obras foram executadas em todos os cantos do mundo, pelos mais célebres intérpretes da época, sempre com sucesso de público e crítica. Trechos de suas óperas se tornaram parte do cancioneiro popular italiano. Recentemente o cineasta Federico Fellini, em seu filme "I CLOWN", ao por em cena um velho palhaço cantarolando melodias de seus velhos tempos o faz entoar “Mia Piccirella”, da ópera “Salvator Rosa”, de 1873.
Carlos Gomes foi o único brasileiro de origem popular a tornar mais conhecido o Brasil em todo o mundo. Fora dele, só os membros da família imperial eram conhecidos. Afinal de contas, nossos dois imperadores pertenciam pelo lado materno de ambos à mais alta linhagem nobiliárquica: a mãe de Pedro I, Carlota Joaquina, era filha do rei da Espanha Carlos IV, uma Bourbon de ascendências habsbúrgicas, e a mãe de Pedro II, Leopoldina, era filha do imperador da Áustria Francisco José II, portanto uma habsburgo do mais alto grau.
Nosso imperador Pedro II tinha livre trânsito nas casas reinantes européias e, além do mais, era conhecido por sua erudição. Mas fora de nobres da família imperial, fora de Caldas Barbosa e suas modinhas em Portugal e fora dos anônimos brasileiros gastadores que iam para Paris “para que esta lhes roubasse o que eles tinham roubado em sua terra “ (ver “La Vie Parisienne”, de Offenbach, canção do "brasileiro"), nenhum brasileiro fazia com que o europeu médio pensasse no Brasil, ou mesmo tivesse ideia de que o Brasil existisse. Carlos Gomes pôs o nome e a idéia de Brasil na mente dos europeus, que começaram a indagar-se “mas que país é este que nos envia compositores dessa altura, dessa inspiração e dessa competência?”
Certamente havia na Europa em meados do século XIX edições em tradução de obras literárias brasileiras, como de José de Alencar, de Gonçalves de Magalhães e outros, imprimiam-se partituras de autores brasileiros em oficinas européias, a casa imperial, Taunay e outros se esforçavam para que pintores brasileiros expusessem suas obras nos salões europeus, mas tudo sem a penetração popular que só viria com as obras de Carlos Gomes.
Este viveu na Itália a maior parte de sua não longa vida, casou-se com uma italiana, teve quatro filhos, mortos todos ainda jovens, com exceção da filha Itala, falecida no Rio de Janeiro em 1948, mas conservou sempre seu extremado e visível amor pelo Brasil, facilmente verificável em toda sua obra, em seus escritos, em suas intenções.
Certos segmentos dos círculos musicais brasileiros tendem a tecer críticas negativas a Carlos Gomes, taxando-o de compositor de óperas (o que já é pejorativo em alguns circuitos...), além do mais de óperas italianas. Quanto a ser pejorativamente compositor de óperas, ocorre lembrar aos interessados que algumas delas são responsáveis por decisivas reviravoltas em toda a música, vide “As Bodas de Fígaro”, de Mozart, vide “Tristão e Isolda”, de Wagner, vide o Pélleas debussyniano.
Quanto a ser compositor de óperas italianas, o era na língua dos libretos, nos esquemas de árias, conjuntos, concertatos. Na substância musical, era um genial compositor brasileiro de linguagem pessoalmente internacional. Como o Mozart do “Don Giovanni”: libreto italiano de autor e língua, abertura, árias, concertatos, duetos, trios, quartetos, sextetos. É o “Don Giovanni” uma ópera italiana?
Com notabilíssima agudeza crítica, o professor Wilson Martins, em sua monumental “História da Inteligência Brasileira” (Cultrix, SP, 1977) alega que teria sido muito melhor para o Brasil se Carlos Gomes não tivesse ido para a Itália, e tivesse ficado aqui mesmo, consolidando a música brasileira e dando nascimento mais cedo a um nacionalismo musical que só viria depois da República. Hipótese altamente sedutora a do ilustre mestre, mas hipótese. Se...
Nos manuais é comum que façam referências a Carlos Gomes como “o maior operista das Américas”, ou títulos semelhantes. Neste 11 de julho natalício é bom que alguém diga que CARLOS GOMES foi genial compositortout court, influenciador decisivo do melodrama italiano, brasileiro amado e amante, figura decisiva na formação da nacionalidade, e que sua obra foi poderoso tônico para o orgulho nacional, no dizer do mesmo Wilson Martins.
MARCUS GÓES (1939-2016)
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